Sou educadora e escritora

sábado, 12 de outubro de 2013

LICENÇA EXISTENCIAL


Faça-me um favor: deixa-me ser quem eu sou. Corro sempre, sem me voltar para trás como o rio que corre sem ser barrado em suas densas margens. Louca, não sei, mas ouço em silêncio a linguagem das estrelas. Desenho meus eus nas bordas das nuvens. As crianças entendem meu sussurrar sem muito falar. Meu espelho me respeita. Meu futuro é ir ao fim sem obstáculos.

Deixa-me cantar! Não posso ser sempre bela. Sou como pássaro sem lugar para um pouso cansado. Quero gritar sem pudor e sem temor. Todos os dias só acordo para dentro. Faço jogo sem regras. Meu riso é baixinho, silencioso, tímido. Não posso ser disfarce. Meu ser é grande. Mas muitos não cabem em mim. Eu leio muitas gentes, muitos não- ditos. Não sei amar devagarinho. Não possuo o dom de economizar nenhum tipo de amor.

Não peço muito, só quero que me conceda  o favor de permanecer fechada para os males que habita a alma dos que não sabem amar. Sem restrições, costuro-me todos os momentos de espanto e de descobertas. Minhas alegrias chegam de forma dolorosa. Minhas tristezas surpreende-me  com seus contornos caprichados. Minha preocupação macrocósmica é amparar o fio de minha meia vida. Meu coração não bate no ritmo alheio. Ele tem som próprio. Ele tem vida livre.

Por favor, deixa-me ser quem eu sou! Sou vento sem freio. Medo sem amparo. Sou o ramo seco da árvore abandonada. Terra perdida no mundo da infância, aroma indistinguível, vela acesa na tempestade, palavra cortante das gentes . Eu sou a ilusão de cada dia que não passa ao mundo indiferente.

Elany Morais

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