Sou educadora e escritora

sexta-feira, 1 de julho de 2016

ELA


Todos os dias, em público, um falso sorriso de serenidade. Era um número repetido. Nunca era um viver de gente de verdade. Talvez faltava a si ou mais uma gente dentro dela mesma. Parecia que alguns de seus pedaços voavam pelos ares. Nas suas desorganizações, o mundo não era inocente. Uma monstruosa cachoeira de desgostos jorrava no seu interior. Tudo se mostrava uma vida perdida. Possibilidades de consolo vagamente se apresentavam.
Qualquer música distante era um retorno ao passado cru. O tempo não tinha limites. Não respeitava as condições de uma vida que seguia marchando a passos lentos, curtos, presos, tímidos, inseguros... Nenhuma luz dentro de si era duradoura. Era uma caverna escura... Por isso, rir toda já não era mais possível. Como rir dançando dentro do redemoinho de sofrimento? Assim, ela só era dentro. Fora era cena. Até mesmo respirar um ar fino era jogo de aparências. Agora só existia distraída, reprimida... Talvez sua agonia vinha a conta-gota. Mas seu infortúnio não vadiava.
Seus gestos eram de muito cuidado, porém, de pouca alegria. Jamais esbravejava. Parecia nunca ir a parte alguma. Não havia espanto nem esbarro. Era de poucas ou tristes palavras. Sem tranquilidade, era serena. Com dor sempre em aberto. E, assim, era o que sempre não foi, mas resistia calada. Calada...
Todos os direitos reservados a Elany Morais

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