Sou educadora e escritora

segunda-feira, 23 de novembro de 2020

ONDE AS MULHERES ESTÃO SEGURAS?

 


Por Elany Morais
As mulheres não estão seguras nas ruas, no trabalho, na balada, na igreja, na escola, no berço nem na própria casa. Os meios de comunicação, sobretudo a impressa, confirmam isso ao colocar em evidência a todo momento o fenômeno social da violência contra mulheres.
Em pleno século XXI, ainda há discursos que legitimam apropriação masculina sobre os corpos (a vida também) femininos, reproduzindo, assim, a cultura patriarcal ainda vigente em nosso país. Só lembrando que a cultura patriarcal desenvolveu-se no Brasil a partir da colonização, sendo que nesse contexto, as mulheres eram privadas do acesso à educação e à cidadania política. Além disso, eram extremamente reprimidas em sua sexualidade, consideradas irracionais e incapazes, controladas em tudo.
A violência contra as mulheres existe porque houve uma construção desigual do lugar das mulheres e dos homens na sociedade . É inegável que a desigualdade de gênero é a base de onde todas as formas de violência e privação contra mulheres estruturam-se, legitimam-se e perpetuam-se, até mesmo quando há discursos que empoderam o agressor masculino e culpa a vítima feminina.
A narrativa é esta: se você estiver na rua, com seu celular na mão, e você for roubado, a culpa é sua porque não guardou o celular. Ou seja, se a mulher estiver na festa, ou na na rua, bebendo, usando roupas curtas, ela deve ser estuprada, porque ela não tem o direito ( não é livre) de fazer o que desejar. Na minha concepção, é um pensamento absurdo.
É fato que há conquistas dos direitos femininos no plano legislativo, mas, infelizmente, os moldes da soberania masculina ainda existe. A mulher ainda é posta na esfera do privado, onde a força masculina reina, fazendo uso da violência, na maioria das vezes.
No século XX, o escritor Lima Barreto denunciava a violência contra mulher em sua crônica intitulada NÃO OS MATEM, onde ele narra um caso de um rapaz chamado Deodoro, em que este quis matar a ex-noiva e, logo depois, suicidou-se, configurando-se, assim, uma revivescência do domínio do homem sobre a mulher. Em seguida, o escritor cita mais dois casos que ocorreram na época de carnaval, o primeiro noticia que um outro rapaz atirou sobre a ex-noiva, que veio a morrer dias depois com uma bala na espinha e, o segundo, em que o homem, pelas bandas do ex-futuro Hotel Monumental, alvejou sua ex-noiva e a matou.
Então, esses episódios nos remetem a alguns acontecimentos atuais? Ou esse tipo de ocorrências ficou nos séculos passados?

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