Sou educadora e escritora

domingo, 25 de setembro de 2016

A ARTE DE OUVIR

Por Elany Morais 

Não há riqueza maior do que a de escutar. Sou ouvinte. Portanto, possuo um bem que jamais me será surrupiado. Na maioria das vezes, oponho-me a falar. Creio meus olhos falarem mais do que minha boca. Minha posição de ouvinte se dá pelo meu desejo de aprender falar. Pois, ouvir é a principal condição para a fala.
Poucas pessoas recebem de mim a minha voz, não por elas não merecerem, mas pelo desejo de oferecer a elas algo de boa qualidade. Se há quem pense que não sou de diálogo, engana-se, ouvir também é responder, é o que Pierre já havia dito. E ainda convém dizer que para muitos, não há melhor companhia do que a de um bom ouvinte.
Ouvir é um trabalho de coleta. É uma atividade que exige empatia, paciência e interesse pelo outro. Depois de muito se ouvir, é bem provável que aprendamos alguma coisa. Além disso, segundo Hubbard Kim, ouvir também é uma forma de entreter algumas pessoas.

Nunca sentei nos auditórios aguardando a vez de falar. Mas, sim, para ouvir os rumores de dentro e de fora. E descobrir que de fora também há vozes que nos consolam, como por exemplo uma música.

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sábado, 17 de setembro de 2016

ONDE ESTÁ A TRANQUILIDADE


Por Elany Morais
Que mundo nos dá tranquilidade? Lá fora tudo é atribulado, convulso e desgovernado. E nos lares? A família foi dissolvida, virou papel picado. Onde se pode sonhar? Existem passeios públicos, por aonde, com segurança , se possa passear? Será que ainda posso fazer minhas preces? Quase tudo já se foi pelos ares. Para aonde foram os lagos serenos e os pássaros a cantar? Qual o destino das árvores frondosas, onde a solidão, ali, podia descansar? Só vejo a profusão dos enlatados. Enlata-se tudo: comidas, plantas... Não há mais espaços para a ponderação, reflexão... Há que se descobrir no meio do caos um novo santuário. Infelizmente, não há mais tempo nem luar para se calcular. E como não se desesperar? Não se pode mais introspectar. Como se segredar? Ninguém pode mais ser na paz e na calmaria. Houve uma explosão da zona se sossego. Já não posso me examinar. Minha fisionomia se confunde. As glórias tornaram-se rápidas, fúteis e vãs. É a nossa degradação física e anímica? Esse filme que passa, por meus olhos, causa-me desgosto e desprezo. É sempre uma lição de decadência presente e a incerteza de um tempo vindouro, porque ainda não existe nenhum método eficaz de combate às feras - que a si próprios se devoram.
Minhas indagações não se dão por medo, mas por desgosto. Um desgosto de forma grande. Eu até me esforço para aceitar o que não entendo, ou tudo o que se inventa. Daí, vou ficando egoísta, mais amargurada do que amedrontada com o que fazemos de nós.

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sábado, 10 de setembro de 2016

AS LEIS NÃO SE CUMPRIRÃO


Por Elany Morais
Em que época haverá juízo?
Ainda haverá idade senil?
Ou teremos que prostrar
Aos pés do imbecil?
Chegamos ao ápice da loucura!
O belo de ontem, hoje virou feiura!
Caímos em um covil!
Atônitos, vivemos a guerra civil!
Não há mais proibição,
Mentir virou lei do coração!
Quem comporá a letra da canção
Se as leis não se cumprirão?
Não há mais respeito
Para o que é direito!
E se o mundo ficou desse jeito
Pode também ser o meu defeito!

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sexta-feira, 2 de setembro de 2016

QUASE


Por Elany Morais
Parece-me que a vida me reservou um quase para quase tudo. Quase fui dali ou daqui. Por muito tempo, tive um quase riso de meio coração. Por isso, tornei-me uma pessoa quase comum, com uma lucidez fracionada. Nem meu entendimento sobre a vida é completo. Não sei se esse quase me serve, mas consisto e insisto nesse viver de quase.
Quase tudo que existe não me tranquiliza, não se solidariza comigo, porque secretiza o que me seduz. Então, quando penso no motivo pelo qual sou quase, convenço-me de que isso é preciso para que eu não esqueça a minha imperfeição e finitude.
Às vezes, julgo truculento esse quase que me persegue. Porém, pode até ser compensador em algumas aspectos. Ser meio canibal me dá panos brancos e finos. A minha meia coragem, de matar o que se vive, salva-me da petrificação cardíaca.

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