Sou educadora e escritora

quarta-feira, 27 de julho de 2016

ME DESBANCO

      Por Elany Morais 

Não me ocorre de quando perdi o rastro
 do bem-viver.
Se ontem, ou quando as tuas idas
eram cheias de lonjuras.
E o que ficou?
O vaso vazio de tinta.
Como colorir agora uma vida primorosa?

Não me ocorre de quando perdi o rastro
do bem-viver!


Nada mais me é disponível.
Cada passo são os cacos de uma taça.
Desgasto-me sem tempo de reconstrução.

Como desenhar uma vida primorosa?

Já não me desconheço.
E no solavando, me desbanco
e não me desmereço.

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sábado, 23 de julho de 2016

ABRINDO FENDA

Por Elany Morais 
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Um olhar para dentro. Quase tudo que fica fora da gente, pode escapar, mas dentro; há que se verificar.
Este desejo de desmisteriar o que ocorre nas veias empurra a gente para dentro da gente mais ainda! Talvez essa necessidade de se varrer por dentro seja para que a vida não nos esmague com muita força.
Os absurdos aqui dentro saltam! Sempre querem vingança. Eles são os criminosos que nos matam . Nunca desejam perdão. Por isso, cuido para vê-los e compreendê-los. Mas quem tem talento para dentro? Quem se espia em silêncio? Quem não deve a si mesmo? Abestar de si é ignorância e condenação. Há fortes armaduras em volta do Eu. O autodesconhecimento é um mar infinito e viver sem entender é caminho perigoso.
Um olhar para dentro. Os absurdos aqui dentro saltam. Que recusa é essa de envelhecer? Para que insistir em endurecer com a morte? Isso é luta vencida. Nenhum órgão nos é fiel eternamente. E essa de fazer de tudo para que os outros nos amem? De correr de si próprio, de enganar-se? Tudo inútil.
O que há dentro da gente pede companhia, socorro. É preciso coragem para envergar-se para dentro. É assim que se cria uma vida, que é nossa, que nos foi concedida... Que a felicidade está escondida dentro da gente é prova inequívoca. É descobrindo-se nesse caminho que se pode ser o que se quer. Não se pode ter desinteresse pela inquietação. Não dá para se perder na insatisfação de uma vida única e breve. O peso de nossa alma tem que ser de música, de flores e poesia. O fardo da solidão, do medo, da angústia é menino mimado querendo peito, carinho, atenção... Por isso, estou procurando, procurando, com luz na mão e encontrando fenda no túnel, porque não quero mais ficar com o que vivi.

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terça-feira, 19 de julho de 2016

SOMOS CANIBAIS


Por Elany Morais

Quando penso na euforia
com que a língua maldiz
o ausente,
dou-me conta da nossa maldade
latente, presente a cada dia.
É preciso saber: somos canibais.
Se tua roupa molha no varal,
aquela paixão, que foi de carnaval,
torna-se uma força truculenta,
que te arrebenta e te joga no
lamaçal.

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sexta-feira, 15 de julho de 2016

FALSA


Por Elany Morais

Não vês que teu sorriso é falso, desalmada?
Assim, pensas que estar a enganar alguém?
Antes, eu via tua face pura e consternada,
Mas hoje, já não enganas mais ninguém!
Tens olhar duro, cortante e persistente,
Com sombras tristes e vis abstrações,
Abrigas tanto fel no peito, diz o que não sente,
Soam falsas todas as tuas expressões!
E eu que já dei a vida por cada teu suspiro
Era amor de mocidade, cheio de crenças vãs
Hoje eu vivo e talvez até prefiro
Acreditar que eu não tinha uma mente sã!

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sábado, 9 de julho de 2016

FUNK





É de conhecimento de todos que o funk é um “ritmo musical” bastante popular no Brasil, principalmente nas favelas do Rio de Janeiro. Mesmo tendo surgido nos EUA, mas foi nas periferias que ele foi se modificando, fundindo-se com outros estilos, como Axé, Forró, Rap, Hip Hop, até se tornar no formato que é hoje.
Infelizmente, o funk também tem assumido o papel rebaixar a cultura musical brasileira, pois muitas vezes, usa a banalização do sexo, da droga e da violência para fazer sucesso, além de se valer de letras que desvalorizam o gênero feminino. As danças, na maioria das vezes, são encenações puramente pornográficas. O estilo musical difunde a ideia de que viver de bem com a vida é beber, relacionar-se sexualmente com vários homens ou com várias mulheres, abrangendo não só a população pobre, periférica, mas também os grandes centros urbanos, vestindo a capa de música e dança moderna.

Elany Morais

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sexta-feira, 8 de julho de 2016

O CIÚME MAL EDUCADO


Por Elany Morais


Denuncio o horror alucinante de me consumir. E o que me consome tem nome: é um querer insatisfeito, é um ter menos do que se quer, é um querer mais do que se tem. É a dor do imaginar. É a azia da alma.
Foi isto que aconteceu: o amor em mim adoeceu. Laçou-me o ciúme, com seus tentáculos da vaidade, da insegurança, do controle, da posse, do pertencimento...Em vão as tentativas de desvencilhar-me. Nasceu e cresceu, em mim, um querer apressado, afobado, solitário, tirano, mártir e martirizador... Faz-me andar na corda bamba. Imerge-me na vulnerabilidade. Joga-me na incivilidade, pois é um ciúme mal educado. As censuras são instantâneas, as perguntas são à queima-roupa. O interrogatório é sucessivo - não para nem respira. O fiasco é parceiro. A cobrança é imediata. A conta não tem juros. Não há tempo para premeditação nem para dissimulação. Nada fica para depois.Tudo é delírio. Flores já não há mais. Braços e abraços, os da sombra. O peito, lugar de blasfêmias e injúrias. Um desespero sem fim. Até o riso é pavoroso. É um show de miséria e embriaguez.. É o mal que nasce. A carência vira crime e a felicidade é apenas sonho.
Denuncio o horror desvairado que me traga. Os dias tornam-se sombrios, e as noites; lentas. E me desgasto no outro. Viro cinzas só. As fantasias são ridículas e cruéis. A mente aliena-se. A desvalia ganha força e sombra. O rebaixamento; altura e forma. Enquadrar-se na idealidade do outro não é possível. Encolher-se parece ser destino. A desvantagem moral não perde a vez.. O temor da comparação não se faz ausente. As suspeitas crescem. A desconfiança envelhece. É o verme que não some e me consome. Como disse Machado de Assis:" é o ciúme gerado no lodo mortal".
O ciúme é isso, mas também é aquilo. É aquilo que te morde, que te rasga, que te sangra, que rouba teu alento, tua vida, é o que te corrói o mais profundo da alma.

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sexta-feira, 1 de julho de 2016

ELA


Todos os dias, em público, um falso sorriso de serenidade. Era um número repetido. Nunca era um viver de gente de verdade. Talvez faltava a si ou mais uma gente dentro dela mesma. Parecia que alguns de seus pedaços voavam pelos ares. Nas suas desorganizações, o mundo não era inocente. Uma monstruosa cachoeira de desgostos jorrava no seu interior. Tudo se mostrava uma vida perdida. Possibilidades de consolo vagamente se apresentavam.
Qualquer música distante era um retorno ao passado cru. O tempo não tinha limites. Não respeitava as condições de uma vida que seguia marchando a passos lentos, curtos, presos, tímidos, inseguros... Nenhuma luz dentro de si era duradoura. Era uma caverna escura... Por isso, rir toda já não era mais possível. Como rir dançando dentro do redemoinho de sofrimento? Assim, ela só era dentro. Fora era cena. Até mesmo respirar um ar fino era jogo de aparências. Agora só existia distraída, reprimida... Talvez sua agonia vinha a conta-gota. Mas seu infortúnio não vadiava.
Seus gestos eram de muito cuidado, porém, de pouca alegria. Jamais esbravejava. Parecia nunca ir a parte alguma. Não havia espanto nem esbarro. Era de poucas ou tristes palavras. Sem tranquilidade, era serena. Com dor sempre em aberto. E, assim, era o que sempre não foi, mas resistia calada. Calada...
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