Sou educadora e escritora

terça-feira, 31 de dezembro de 2013

O CANTO




 Ando pelo bosque sem pressa
Invade-me o cheiro do perfume
Enlouquecida sorvo à beça
Como nunca foi de costume....

Desatenta perco o caminho
Mas vejo apenas o que quero
Encanta-me o pássaro no ninho
Ao ouvir o canto, eu venero.

Era um canto sibilante
Que dançava sobre mim
Valia mais que diamante
Envolvia-me numa paz sem fim.

Elany Morais

Todos os direitos reservados a Elany Morais

SAUDADES



 Sempre vem me ver
Através do pensamento
Fazendo-me padecer
Em todos os momentos....

Não almejo tua visita
Na passagem do tempo
Nem mesmo numa mesquita
Com a força do vento.

Ignoro-te nesta idade
Contigo fui devagar
Mesmo sem vaidade
Não venhas me procurar.

Elany Morais

Todos os direitos reservados a Elany Morais

LEMBRANÇAS



 Minha lembrança dilacera os olhos
Impiedosamente fere as mãos
Já não tenho mais paciência
Com essas coisas do coração....

Atada ao remo das lembranças
Experimento os desgostos da vida
Já não tenho mais confiança
Nessa existência sofrida.

Não tenho mais resistência
Com tantos pensamentos
É muita maledicência
Em cada vão momento.

É um viver desesperado
Com todo esse sofrimento
Nada será consertado
Nem mesmo no pensamento.

Elany Morais

Todos os direitos reservados a Elany Morais

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

DESISTÊNCIA




 De repente, chega a hora de partir. De devolver todas as chaves. De apagar o único lampião. De rasgar todos os projetos. De reconhecer que derrotas existem. De perceber que nem todos os valores humanos estão vivos.

A qualquer momento, pode ser o tempo de correr rumo a novas direções. De não aceitar mais os insultos do mundo. De desistir do que não satisfaz. Não vale tentar mais uma vez. A vida urge. Não se colherá mais ramos secos. Sepultura não se visualizará.

E vem o não esperado: a vontade de sacudir as vestes. Não olhar para trás. Lembrar da estátua de sal. Mudar não será um mal. Faz- se necessário sepultar esquecimentos. Jogar fora as roupas gastas. Sacudir as velhas gavetas. Há que se convencer de que é preciso fazer coisas despretensiosas. Abandonar velhas teimosias. Que tal desistir de fazer uma achado de sua cara metade? Pode-se aventurar em encontrar o complemento em si próprio.

Um dia pode ser o dia de se sair sozinho, resignar-se de companhias. De sentar na calçada a ver transeuntes passar. Haverá o momento de gritar ao léu, de desistir da normalidade, de desdobrar em si, de andar a esmo, virar a solta, de andar vazio dos outros e andar cheio de si.

Elany Morais
Todos os direitos reservados a Elany Morais

OUSADIA FUTURA


 Não serei morta no presente
Nem sem desejos no futuro
Desistência será ausente...
Passos não serão no escuro.

Desbravarei as ondas do mar
Apagar-se-á lembranças do passado
Ousadias não irão naufragar
O segredo não será violado.

Serei louca na teimosia
Nas atitudes menos mansa
Não me alimentaria de fantasia
Palpável quero bonança.

Elany Morais


Todos os direitos reservados a Elany Morais


VAZIO



 À noite à beira do rio
O medo a flecha lança
Só de coração vazio
Na solidão a alma dança....

Sensações lentas como rio
Sentidos parcos sonolentos
Desejo ínfimo e frio
Temores e sonhos violentos.

Sem vozes anônimo e frio
Pensamentos sem razão
Espírito perdido no vazio
A vida assim é em vão.

Elany Morais

domingo, 29 de dezembro de 2013

MEDO



 Na penumbra silenciosa se instala
Como os voadores sedentos noturnos
A língua presa na boca se cala
Se revelando aos ventos diurnos. ...

Paga o preço pela invisível prudência
Desejos irreconhecíveis se moldam
Despreparos emotivos na inocência
Na vida inteira de uma alma se voltam.

Resignar-se à margem da ousadia
Paga-se o alto custo diário
O espírito abandona a moradia
A vestir-se de motivo hilário.

Elany Morais

Todos os direitos reservados a Elany Morais

PROCURA

Sobre o pano branco a minha alma
Junta-se a tua na emoção
Nos teus braços sou lagoa calma
No teu amor minha salvação.

Sem teu coração o meu não sente
Nem sorve a doce calma
Vive preso nas correntes
Se ficar sem tua alma.

Tua presença vou procurar
Para não sentir o amargor do fel
Sem teus beijos não sei ficar
Nessa vida algoz cruel.

Elany Morais

Todos os direitos reservados a Elany Morais

 

ALMAS INCERTAS



 Almas incertas sem abrigo
Não se prende a um olhar
Perde a luz como quadro antigo
Por no coração o amor negar....

Nunca mantêm o mesmo fulgor
Ficam frias como pedra
Murcham pelo desamor
Nem mais o coração acelera.

Vivem negando em toda parte
Sempre cogitando alertas
Não há o que as farte
Assim são as alma incertas.

Elany Morais

Todos os direitos reservados a Elany Morais

sábado, 28 de dezembro de 2013

TRISTEZA



 Quanta tristeza e angústia invade
Em tormenta o frágil peito
A amargura na agilidade
Na vida fútil não há jeito....

Com a existência a morte casa
Todos os braços se desfazem
A tristeza oprime e abrasa
Mas as forças se refazem.

No consolo o céu inexistente
Para ocultar a vida austera
O infortúnio persistente
E a vida uma quimera.

Elany Morais

Todos os direitos reservados a Elany Morais

FELICIDADE



 Chega a felicidade silenciosa
Abraço-a com muita ânsia
Só a ignora uma alma medrosa
Ou se vive a inocência da infância.

Fico a ela submissa...
Como se o espírito nunca tivera
No terror do possível sumiço
Na tão sonhada primavera.

Depois de muito procurar
Bravejando com todos os ventos
Autoconhecendo aprende a encontrar
A felicidade em todos os momentos.

Elany Morais


Todos os direitos reservados a Elany Morais
 

SOLIDÃO

A vida solitária enxerga o mundo um deserto
Mas muitos elementos este universo povoam 
Quem se autoconhece possui alma aberta
Onde os espinhos da solidão se destoam.

A noite cobre com seus panos escuros
A solidão imaginária aperta o peito
O silêncio refugia atrás do muro
Se não se libertar não terá jeito.

Elany Morais

Todos os direitos reservados a Elany Morais



HOJE



 Hoje eu quero

Os pensamentos mais nobres
O despetalar de milhares de flores...
Desprezar as ideias mais pobres
E embriagar-me de vários amores.

Hoje eu quero

Violar todos os segredos
Naufragar no mar de ternura
Abandonar os infindos degredos
E amar sem muita frescura.

Hoje eu quero

Vestir-me de toda candura
Saciar a sede do corpo
Fundir-me com muita fissura
E ressuscitar o desejo morto.

Elany Morais


Todos os direitos reservados  a Elany Morais

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

IMAGINAÇÃO



 Submerjo no mar da imaginação
Que da sociedade organizada estou despida
Que a felicidade não era apenas ilusão
Que a batalha pela vida não está vencida....

Submerjo no mar da imaginação
Que de todos a liberdade era um encanto
Que nenhuma alma se vestia de solidão
Que nas faces não se via mais nenhum pranto.

Submerjo no mar da imaginação
Que nos lares não existia mais abandono
Que os justo não sofriam perseguição
Que os animais não viviam mais sem dono.

Elany Morais

DOR PRESENTE

Uma coisa é certa
Como flecha potente
No aflito peito veta
A chama da dor presente.

Vem com coroa de  sombra
A trazer múltiplos receios
Arrefece com tal tromba
Sem saber porque veio.

Dela a cinza só consome
Não há leito que a afague
Tortura mais que sede ou fome
Só há lágrima que alague.

Elany Morais
 
Todos os direitos reservados a Elany Morais

 

A DOR



 Ela se foi
Os olhos se privaram de tal doçura
A boca se embriagou de fel
No peito residiu só amargura....

Sem regresso
As lágrimas correram
A dor se condensou
Os sonhos morreram
A saudade imortal ficou.


Sem carícias
A voz se pôs a soluçar
Na desgraça não aprendeu
A um amor recomeçar.

Sem consolação
O sonho virou mágoa
A dor não deu guarida
Os olhos ficaram rasos de água.

Elany Morais

Todos os direitos reservados a Elany Morais


MEMÓRIAS



 
Nas minhas memórias sobrevivem

Tua pele aveludada,
Os sussurros secretos,
A alma acalentada,
E nossos passos no deserto.

Nas minhas memórias sobrevivem
Os lugares marcantes,
Os rabiscos da agenda,
Os gemidos cortantes,
E ventos da tormenta.

Nas minhas memórias sobrevivem
Os ciúmes abrasados,
Os embalos a sabor da brisa,
O peito dilacerado,
E o sonho de poetisa.

Elany Morais

Todos os direitos reservados a Elany Morais






 

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

DEVANEIOS



 Disse meu coração:
Quero rumor de beijos,
Por os pés onde houver flores e encanto,
Gente vivendo os ensejos,...
Pessoas contentes em qualquer canto.

Quero apagar lembranças de assombro,
Fazer da noite uma eterna alvorada,
Gargalhar do possível tombo,
Viver o amor sem fachada.

Quero desfolhar a chuva,
Contemplar a serena felicidade,
Privar-me da vida murcha,
Ausentar-me da frieza da cidade.

Elany Morais

Todos os direitos reservados a Elany Morais
Ver mais

MEU DESAMOR



 É Natal.
E eu como criança desejosa daquilo que não era meu,
sobre a rua desamparada,
via a felicidade alheia se esfregando em minha cara....

Mas aquela felicidade era um tanto intrigante para mim.
Ela era enlouquecida.
Pirueteavam à minha frente, rostos convulsos,
risos desordenados sobre duas ou quatros rodas.

Eu me convencia de que o mundo era um palco de gladiadores.
A felicidade alheia poderia dizimar minha existência para sempre.
Eu não podia dar aos meus passos preguiçosos
um pequeno espaço sem ameaças da desordem
dos que estavam de bem com a vida.

Por alguns instantes,
eu tinha a falsa impressão de que eu era o único
ser vivente existente no mundo.
Por que era Natal?

Em frações de segundos, o cenário se transfigurava.
O cheiro era de embriaguez.
Eu me sentia sem forças.
Eu não era percebida pelos poucos transeuntes
que se deleitavam em suas alegrias tempestivas.

Meus sentidos estavam ligados a tudo.
Meu espírito não comemorava vida
pois meus olhos se detinham numa existência que findara.
Sim, uma vida foi ceifada num ambiente festivo.

Olhei atentamente para aquele pequeno pássaro,
que não era pequeno para minha sensibilidade,
ele estava imóvel, ferido, sem vida, estava espalhado,
servindo de tapete por quem não enxergava o pulsar do coração do outro.

Diante dessa trágica realidade, vi que eu também era um tapete para aqueles
que passaram pelo meu coração, que saíram sem avisar, sem demora.
Eu também poderia ficar inerte, gélida, estátua por algumas horas
para os que sabiam que eu ainda existia impotente perante a realidade imutável.
Mais uma vez, vi a lei da vida jogada na minha cara:
o menor sendo devorado pelo maior.

Agora, era um passarinho garboso, cheio de vitalidade,
que devorava um pequeno inseto.
O implorar pela vida nada valia.
A comemoração pela captura da presa era clara, exibicionista
inseto se debatia, mas seu algoz ignorava sua luta desesperada pelo existir.

Rapidamente,
mais uma vida partia.
Eu não tinha dúvida de que em tempo arrastado,
eu também partia para a eterna inexistência.

Elany Morais
Ver mais

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

É NATAL



É Natal. E eu como criança desejosa daquilo que não era meu, sobre a rua desamparada,via a felicidade alheia esfregando em minha cara.

Mas aquela felicidade era um tanto intrigante para mim. Ela era enlouquecida. Pirueteavam à minha frente, rostos convulsos, risos desordenados sobre duas ou quatros rodas.

Eu me convencia de que o mundo era um palco de gladiadores. A felicidade alheia poderia dizimar minha existência para sempre. Eu não podia dar aos meus passos preguiçosos um pequeno espaço sem ameaças  da desordem dos que estavam de bem com a vida.

Por alguns instantes, eu tinha a falsa impressão de que eu era o único ser vivente existente no mundo. Por que era Natal? Em frações de segundos, o cenário se transfigurava. O cheiro era de embriaguez.

Eu me sentia sem forças. Eu não era percebida pelos poucos transeuntes que se deleitavam em suas alegrias tempestivas. Mas meus sentidos estavam ligados a tudo. Meu espírito não comemorava vida, pois meus olhos se detinham numa existência que findara.  Sim, uma vida foi ceifada num ambiente festivo. Olhei atentamente para aquele pequeno pássaro, que não era pequeno para minha sensibilidade, ele estava imóvel, ferido, sem vida, estava espalhado, servindo de tapete por quem não enxergava o pulsar do coração do outro. Diante dessa trágica realidade, vi que eu  também era um tapete para aqueles que passaram pelo meu coração, que saíram sem avisar, sem demora. Eu também poderia ficar inerte, gélida, estátua por algumas horas para os que sabiam que eu ainda existia. 

Senti-me impotente perante uma realidade imutável. Mais uma vez, vi a lei da vida jogada na minha cara: o menor sendo devorado pelo maior. Agora, era um passarinho garboso, cheio de vitalidade, que devorava um pequeno inseto. O implorar pela vida nada valia. A comemoração pela captura da presa era clara, exibicionista. O inseto se debatia, mas seu algoz ignorava  sua luta desesperada pelo existir. Rapidamente, mais uma vida partia. Eu não tinha dúvida de que, eu em tempo arrastado, eu também partia para a eterna inexistência.

Elany Morais

Todos os direitos reservados a Elany Morais

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

DESENCONTRO



 Você chegou, abraçou-me. Parecia que em seus olhos havia amor. Apossou-se de mim. Roubou meu querer. Acorrentou meus passos. Abafou meus desejos. Engoliu-me com falsas promessas. Distraída, foi me perdendo. Perdi meu Eu, minhas... alegrias, minha força, minha coragem... Como papel em branco caminhava meu destino. Nosso falso amor tomou rumo que nem eu sei.

No primeiro sonho, eu era ventania de desejo, você uma geleira imóvel. Eu corria, você desfilava a passos lentos. Eu cantava; você implorava pelo silêncio mórbido. Nossos ritmos eram desencontros. Eu dançava, seus olhos me paralisavam. Eu regava as flores; você despetalava-as. Eu ria; você se assustava. Nossa dança era no descompasso.

Você me fez barquinho de papel em alto mar. Eu queria seus braços; você me soltou. Compus minhas canções, você as desprezou. Eu me sentia a noite de verão mais sedutora; e você dormia em meu luar. Eu narrava o mais lindo conto de fada; você vacilava. Eu juntava os fios; você os separava... Assim a minha luz se enfraquecia. Eu levantava. Continuava a procurar o seu caminho, os seus laços e abraços. Tudo em vão. Você escorregava. Desamparava-me. Não me encontrava. Eu continuava forasteira em sua morada. Enquanto eu queria que fosse minha coleira, você me enforcava e me jogava na poeira.

Eu sucumbia a cada anoitecer e amanhecer. Minha vida era um deserto. Você levava embora minha paz, minha dignidade. Não me sobrava nada, nem as lembranças dos enganos de amor. Eu estava nua de desejos, de carinhos... Minha alma secava a olhos vistos. Meus lábios tornaram-se preguiçosos. Minhas mãos esqueceram os suaves toques, meu corpo esqueceu as carícias e eu já não era mais nenhuma flor vermelha.

Elany Morais
Todos os direitos reservados a Elany Morais

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

ONDA QUE VEM



 O dia é de maré cheia. As ondas me assaltam com surpresas de traquinagens pueris. Meus olhos saltam de janela a fora, a procura de prazeres sutis.

Num instante, minha visão dilata-se diante de algo que para muitos poderia... ser apenas um grão de areia. Contudo, eu vejo grande. Vejo o trabalho incansável e disciplinado das formigas. Sinto inveja de sua persistência. A minha perseverança não me basta.

Detenho-me perante o bailado da menor folha da árvore. Admiro sua ginga, sua tranquilidade. Meus movimentos não me satisfazem. Minha alma pede calma.

Ouço o grito da criança quase inaudível por muitos, mas penetro-o sem limites, em busca de decifrar os desejos reféns da compreensão de quem anda à beira de perder a humanidade. Meu silêncio quer romper o tambor lacrado.

Elany Morais

Todos os direitos reservados a Elany Morais

SEM MEDO




 Não engula as palavras que acalentam minha alma.
Descansa comigo no meu mar de ilusão.
Seus beijos é a reza que devolvem minha calma.
Sua ausência é a ferida aberta em meu coração....

Meus desejos são viajantes sem fronteiras.
Seus braços me fazem a alegria de viver encontrar.
Meus sonhos de idílio são nas mangueiras
Que teu corpo não muito tarda a me encontrar.

Elany Morais

Todos os direitos reservados a Elany Morais



A RUAZINHA



A ruazinha era amparada apenas por sombriões  vermelhos. Era atapetada por pétalas esparsas. O sombreamento dava-lhe o tom melancólico. O silêncio fazia dela uma eterna solitária. E eu  observava sua extensão que se apresentava aos meus olhos como um mar sem fim.

Ao olhar para todas as direções, percebia que nada mais além de mim existia ali. Eu era rainha sem súditos. Eu era livre como barco sem remador, como um burro sem sela, como um cão sem dono...

O vazio me convencia de que todos os viventes haviam partido dali. Não sabia eu o que o motivo do meu vagar por aquela rua que parecia visões oníricas. Apressei o passo. Eu queria fugir  o mais rápido possível. Mas os vestígios de flores no chão me prendiam. Meus olhos eram seduzidos pelo espetáculo do cores que se arrastavam pelo chão.

Seguia eu a passos largos, levando sob os pés aquilo que me encantava. Minha ânsia de ouvir vozes era feroz. Eu precisava confirmar que eu não era  o único coração que pulsava naquela paragem.

Ofegante, olho para trás como quem fugia de um demônio assustador. Não vejo nada além das folhas que bailavam nos seus galhos. Eu entendia que elas me acenavam a se despedir de mim com olhar piedoso. Por um instante, quase paro, mas minha covardia  me obrigava a fugir não daquela rua, mas de mim mesma. Eu fugia, eu tinha medo da minha própria companhia.

Elany Morais

Todos os direitos reservados a Elany Morais

domingo, 22 de dezembro de 2013

CASTIGO



 Junto minha malas, parto com o gosto do fel. Não aprendi a regra do jogo. Cada partida, saio em pedaços. Mas minha teimosia é absurda. Continuo colecionando meus pedaços, recompondo-me para continuar nesse jogo da vida.

Sou her...ança do castigo. Puseram me nesse mar de enganos. Mesmo sendo tragada, como punição, o desejo de permanecer é feroz. Se assim é o viver, se a batalha consiste em existir por maior espaço de tempo, vou seguindo a luta, mesmo dilacerada, em frangalhos, exausta, cansada, mas vou... Tentando me equilibrar em saltos, em linhas, em incertezas... Tentando medir forças com a dor, com a tristeza, com a angústia, com as decepções, mas vou de pé. Não sou eterna, a punição final virá para mim e o castigo, eu passarei, o castigo passará. Eu findarei, o castigo findará. Não serei nada, e ele não existirá,enquanto isso, continuaremos nosso entrave....

Elany Morais

Todos os direitos serão reservados a Elany Morais
Ver mais

sábado, 21 de dezembro de 2013

SÚPLICA



 Ouça meu coração
Ele pulsa baixinho
Renega a solidão
E implora por carinho....

Veste-se de pressa teus amores
Aplaca minha alma
E alivia minhas dores.

Fortaleça minha esperança
Alegra o meu viver
Padeço na insegurança
Não quero mais padecer.

Elany Morais

Todos os direitos reservados a Elany Morais

CONFLITO



 Era um ciclo viciado
Uma palavra amarga
Os ânimo alterados
Alegria tornava-se vaga....


E tudo se consome.
O mar era de lágrimas
Com peito apertado
Gritava teu nome.

O silêncio vinha
O desespero apertava
A paz já não tinha
O mundo desabava.

Elany Morais

Todos os direitos reservados a Elany Morais

INSUBSTANCIALIDADE PARTE II




 Por um instante, meus olhos se desprenderam daquela tela. Senti a efemeridade da vida. Veio-me à minha consciência :tudo se esvai com o tempo. Nesse momento, meu medo esvaía-se. Pois agora, eu começava a ser ...invadida por uma coragem absurda. Coragem de sobreviver aquele ambiente melancólico, ou até mesmo hostil a minha sensibilidade.

Levantei, impaciente, pus-me andar de um lado para outro. Uma voz insistente dizia-me que o tempo havia fluido rápido, que eu precisava despertar para o que ainda me restava. Mas o que ainda me restava?A solidão? A certeza do fim de tudo? Eu me certificava de que eu apenas havia sido visitada pela coragem.

A passos preguiçosos, dirigi-me à janela. Mas me faltava alento. A muito custo, abri-a lentamente. Os espinhos do viver havia me anestesiado. Fiquei imóvel, contemplando a paisagem lá fora que parecia compadecer-se de minha eterna melancolia.

Elany Morais
Todos os direitos reservados a Elany Morais

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

POEIRA



 A vida solta as pontas dos fios, e eu vou me transformando em poeira, a cada dia. Hoje ainda sou uma poeira viva. Vejo- me solta, suspensa, ardendo-me para não me desintegrar no espaço.
Em vão, tento atar essas pontas, para que pres...a nelas eu permaneça, com a espera de subsistir o que já está definido.

Valho-me de todas as forças, aciono minha migalha de lucidez, porém o que me sobra é o vazio, a escuridão, o esquecimento, a indiferença...

Tento construir muros, pontes... Tudo inútil. Pois meu barco não perde a direção. Ele teimosamente me leva para o nada. Minha consciência não descansa. Diz-me a todo momento que tenho prazo de validade, sem direito a conhecimento de data, sem aviso prévio... Sem um índice, sem um sinal, sem um aviso.

Correr já não adianta. Ficar é perder o que ainda me resta. E o me sobra é esperar, como se o vácuo não fosse chegar. Assim, ainda sou torturado pela flecha do medo, ele me diz que o desconhecido é cheio de labirintos, talvez sem saída. Contudo, nada me dá certeza de que vim do pó e para o pó voltarei.

Elany Morais

Todos os direitos reservados a Elany Morais

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

A VIAGEM

    
Das pálpebras quase cerradas, vertia um filete sanguíneo. Lábios convulsos emudeciam .Desespero férreo ramificava-se. Suspenso no ar, presente e passado se cruzavam. A escada do fim encurtava-se. Alegrias e prazeres transmutavam-se. O vento suspendia partícula no ar. O sol marcava sua despedida. Vozes murmuravam. O cheiro tétrico se arrastava no quarto.


O brilho dos olhos esmaecia. A pele era mámorea  amarela. O frio invadia a derme. O coração seguia em descompasso. O mar dos desejos secavam lentamente. A dor era complacente. Aceitação era a morfina. A despedida se fazia breve. Todos os objetos choravam copiosamente.

Elany Morais

Todos os direitos reservados a Elany Morais

CANÇÃO HIBERNAL



Os sons plangentes
De violões e vozes
Enchem meu peito
De  nostalgia e dor.

O ritmo cadente
Se alonga
Trazendo lembranças de
Amores ternos ausentes.

Em silêncio
Sigo o vento
Que nas notas
me transporta
Para um vida distante.

O tormento se achega
Transformando os sonhos
Em meras folhas secas.

 Elany Morais

Todos os direitos reservados a Elany Morais

LOUCURA

Ameaça esse viver
O sol de toda razão
Da cegueira pode dizer
Esse mundo é de ilusão.

O olhar desamparado
É um triste canto iludido
Com pés no descampado
Na privação do sentido.

Subir oculto ao céu
Descer feliz ao mar
Rastejar-se ao léu
A cantar sem cessar.

Elany Morais

Todos os direitos reservados a Elany Morais




 

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

A ÚLTIMA CANÇÃO

 
Perdoe meus gestos indelicados. Emoldure em mim! Seja em mim aquele quadro de mil linguagens que prende todos os espectadores. Seja a luz que não deixa esmaecer o brilho da vida. Não destrua minhas verdades, minhas ilusões... Não estremeça minhas noites. Não esmague meu amor, não alimente minha dor. Regue-me!  Vibre em mim!! Não me deixe ser sozinha de amor. Viva no meu sonhar de cada dia. Cante comigo!


Somos clandestinas, ilegítimas, querida, mas nós nos merecemos. Caibo em sua pessoa. Meus desejos são gigantes. Rompemos os limites. Nosso corações seguem o mesmo ritmo ,a mesma cadência. Não endureça para meu ser. Quebre as correntes! Venha, sente aqui!! Dê-me a mão! Não desacredite da magia. Guardamo-nos, pois a frieza está a solta. Pularemos juntas todos os degraus da indiferença. Olha, nossos reflexos pairam no ar, nosso aroma  canta glória ao nosso ninho. Não destile ida. Escreva em sua agenda: volta. Volta, fica aqui no nosso quarto que chora. Chora o vazio que você deixou.

Elany Morais
Todos os direitos são reservados a Elany Morais

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

FANTASIAS

Minhas fantasias são incansáveis. Sob o silêncio do quarto vazio, elas voam. A mente traça percursos em direção ao céu e mar. Os olhos descansam para alma saborear. A inquietação se achega. Sou fundo. Delírio. O espírito festeja. Busca leveza. Pois dentro é pedra. O corpo pesa. Reflete o peso de dentro. Fantasias pesam. Não sei carrega-las. Ora são algodão. São macias, ora é bala certeira.

Elas têm seus encantos e generosidades. Faz de mim mais bela. Até mais terna. Mas jugam-se cabíveis em tudo. Vestem-se de mim para amar. Visto-me delas para viver. Nos dias cinzas, poupa-me da realidade sombria. Nesses dias, tudo brilha. É real para mim. Tudo pode ser belo. Porém, há um ponto escuro.

Trazem também o escuro da dor. Vem consigo as incertezas. Devaneios tortos. Calam a boca. Rios saem dos olhos. Os lábios fecham. Olhos falam. Nada fica no esquecimento. Mas não é desvendável. Lugares não são lugares. São divas bêbadas. Azul é rosa. Lembranças é  foto desbotada. É uma imagem doída. Deserto ganha vozes. Desenham sobre mim álbuns antigos. A palavra não dita. O olhar indiferente. O é ou não é. É vagueante o querer ser. O coração forma uma bolha. Tudo pode ficar lá. Mas as imagens serão sempre reproduzidas.

Elany Morais

Todos os direitos reservados a Elany Morais


VOO

Meus medos voaram como voa o beija-flor. Abraçou-me a fé. Meu coração conhece todos os caminhos. Meus sonhos são reais. Meu andar não mais será vacilante. Não haverá memórias dos meus dissabores. Esmago todas as fantasias incapacitantes. Rompi todas caixas que guardavam meus medos e inseguranças. Mas não estou alheia. Tenho certeza das noites. Minha formação é frágil, porém, faço-me forte.

Não me cansarei de mim nem de minhas crenças. Meu remédio é caminhar sempre. E vou engenhando meu mundo com fios fragmentados. Desafiante é ser insana num mundo "são". Meus erros ainda serão meus danos, danos justificáveis. Contudo não crescerei muda. Vou desbravando esse mundo de enganos e desenganos. Vou pactuando comigo, sentindo meu corpo e minha alma. Nada escapará de minha garganta. Nenhuma pedra no caminho restará.

Elnay Morais

Todos os direitos serão reservados a Elany Morais



sábado, 14 de dezembro de 2013

INFÂNCIA PARTE VI

 
Em vão, tentaram fechar meus caminhos: rasgaram minhas vestes brancas. Poluíram meu mar sereno. Postergaram minha viagem. Roubaram meus primeiros passos. Desligaram minha luz original. Sacudiram minhas noites. Violaram meu corpo. Surripiaram meu sono. Flecharam meu silêncio. Naufragam meu barco. Subtraíram meus frutos. Chuparam meu último gomo. Abafaram meu ódio. Calaram meu grito. Cegaram meus olhos do presente. Esvaziaram minha imaginação. Exorcizaram meu futuro. Partiram minha pele.  Lançaram-me nos enganos. Cassaram minha morada. Demoliram minhas esperanças. Partiram a corda do meu destino. Atrasaram meu relógio. Esconderam minha morte. Envelheceram minha dor. Atacaram meu prazer. Salivaram meu rosto. Apedrejaram minha inocência. Transfiguraram minha planície. Esculpiram minha mágoa. Dissolveram minha alegria. Salgaram meu vinho.  Secaram minha água. Exibiram meu fel. Desintegraram minhas rochas. Reduziram minha condição. Proibiram meu amor. Jogaram a espada em minha mão. Deram-me aspereza. Arquitetaram minha ruína. Fecharam minhas portas. Acorrentaram minha alma. Empurraram-me na cova dos leões. Arrancaram meu teto. Sopraram a luz da minha ração. Desbotarem minhas cores. Quebraram meus retratos. Abriram minhas gavetas. Manusearam minhas mãos. Queimaram minha sorte. Jogaram minhas fichas. Gastaram minhas vidas. Arranharam meus discos. Riram dos meus passos. Zombaram de minha letra. Desrespeitaram minha lógica. Cantaram minha canção. Respiraram meu último ar.


Enfim, deformaram minha infância.
 
Elany Morais
 
Todos os direitos reservados a Elany Morais

INFÂNCIA PARTE V

 

Foram dias e dias a espera do que parecia impossível chegar. Eu precisava de cautela. Juntei nas mãos minhas dores e as pus no bolso. Eu sentia demais. Meus poros ruflavam sentimentos. A inteligência tinha que vir ao meu socorro. De repente, parece que diviso meus caminhos. Mas como seguir aquele caminho que se apresentava aos meus olhos como a única saída daquele labirinto vazio?


Eu não estava sozinha, eu tinha a companhia dos meus fantasmas. Eles esperavam comigo. Esperava, de repetente, acordar em um novo lar, em um novo quarto. Um quarto com um cheiro diferente. Minhas vestes não seriam mais as mesmas. Tudo exala o novo.

Nessa espera de fuga, eu poderia até ser feliz. Pois o infinito era minha crença. Cantar, quem sabe? Era uma forma de esperar o tempo marchar. Mas minha boca estava selada. Nenhuma nota conseguia romper o destino bucal.

Recorri meu espírito mirim guerreiro. Saí, como quem cata conchas no mar. Olhava para os seres minúsculos que eu poderia pisotear. Minha visão de águia protegia os indefesos como eu.

Minha mente era limitada. Eu não sabia por que os espinhos atravancavam meu caminho. Contudo, sentia que eles tinham que ser retirados com minhas mãos , pés e sangue. Como vagalume fui iluminando um a um. Minha luz era tímida. Eles subestimaram minha fraca luz, tronaram-se displicentes, por isso, eis-me aqui.

Elany Morais
 
Todos os direitos são reservados a Elany Morais

LUTA



 Carrega na alma força sem medo
Não existe maldição em sua cor
Sua resistência veste-se de segredo
O negro resiste ao fado obscuro de dor. ...

Não se ouve mais gemidos na senzala
Abraça-se ao direito ao amor
O direito presente não se cala
O negro tem seu grande valor.

A injustiça na sua alma doeu
Mas a força pulsa em seu coração
Sua luta renhida valeu
Agora segue-se outra direção.

Elany Morais

Todos os direitos reservados a Elany Morais


sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

INFÂNCIA PARTE IV



 Foi numa daquelas manhãs temerosas. Foram muitas assim. Quando eu me movi naquela redinha triste (na verdade, tudo naquele quarto era triste. O cheiro era triste. A luz que invadia a fresta da porta chegava até mim com ol...hares tristes. Ela amaciava minha pele, a pedir que eu esperasse a tempestade passar, assim, eu ficava imóvel olhando para o brilho daquela pequena luz), eu abri os olhos, vi que mais uma manhã chegava, com sua beleza, mas trazendo pesadelos para minha alma, que já estava abatida.

Inerte, permaneci sentada sobre a rede, eu era uma idosa cansada de viver dissabores. Fiquei perdida a olhar meus pequenos pés marcados pela dureza da vida que me deram. Mas meu passeio por mim não durou por muito tempo, pois logo ouvi aquela voz autoritária, fria, ameaçadora que me gritava, gritava sem considerar que meu mar estava seco, a pedir socorro. Quando ouvi aquela voz, meu coração me disse que estava apavorado, que eu deveria fazer algo para nos protegermos. Levantei cambaleante de tristeza e medo. Nem quis saber o que aquela voz queria. Fui correndo, com lágrimas. Desorientada, peguei uma vassoura(ela era triste. Olhei para ela, parecia que me pedia socorro, agarrei-me a ela, ainda pensei em beijá-la, mas tempo não havia), com a vassoura nas mãos, pus-me a varrer aquela casa, mas na casa na havia sujeira. Sujeira havia no espírito de quem me conduzia naquele mundo feio. O desespero veio ao meu encontro. Fui coberta por um nevoeiro. Eu não tinha mais nada a fazer.

Pus-me a andar como um barco perdido no mar. Eu caminhava para todas as direções sem saber que rumo tomar. Exausta, prostrei-me sobre um tronco de madeira. Sem forças, fiquei a observar os frutos daquele tamarineiro. A olhar, desejei ser aqueles frutos. Eles, sim, tinham a liberdade de serem eles. Eles podia ficar em seu lugar quieto. Podiam dormir e acordar, sem medo, sem dor... Ali, perdida em meus pensamentos, fui assaltada por uma forte dor em minha cabeça. Aquela dor era um mistério. Por que eu deveria ser golpeada na cabeça? Eu tinha certeza de que eu estava sendo punida por pensar. Pensei que minha algoz adivinhava meus pensamentos. Eu não podia pensar, meus pensamentos eram ouvidos. Naquele momento, senti-me uma árvore velha, sem futuro, preste a ser ceifada. Nenhum dos meus caminhos iam, nenhum me levava a algum lugar. Eu era uma peregrina sem viagem, sem saber por que eu estava sendo comprimida.

Elany Morais

Todos os direitos reservados a Elany Morais

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

O AMOR



 O amor é a alma sentindo. Sentindo a ausência do ser amado. Querendo fundir no outro. Para o amor não há limites nem fronteiras. Nada ele compreende. Só sente, só quer.

O amor só busca, não engasta nem enfeia a vida. Não é indiferente a qualquer que seja a gente. É lua crescente. Deus nos deu alma, essa alma só serve se for para amar. Amar aqui, ali, acolá....

O amor é quem faz sentirmos o sabor da vida. Esta sem aquele é incolor. Somente ele, o amor,possui o poder de minar todas as sombras paradas na alma de quem não sabe amar.

É a amar que se ver sempre o sol brilhar. Há sempre um anseio em ver e sentir. Como diz Fernando Pessoa: "é a febre do sentir."

Esse sentimento torna nossos olhos iluminados. O objeto amado é sempre desejado. Nada é ridículo, quase nada é reparado.

Como diz Florbela: "ah, amar, amar", porém não entendo tantas pessoas querendo corpo e alma matar, se é mais valioso e bonito na vida amar.

O amor é quem dá ritmo ao universo, preza pela preservação da vida humana. Há que ter espaço para ele. Pois amor é desamarrar todos os nós que nos deixa sós.

Há quem ainda corta o tempo lançando a possibilidade de amar nas profundezas das cavernas. Mas que minha boca não deixe minha memória esquecer que na vida sem amar é padecer! Vou até ao fim do túnel buscar a única oportunidade de amar,só assim, vale a pena ficar na vida sem a morte esperar.

Com essa ideia, vou cantando a canção do amor, a dizer que a flor brotou quando a pessoa amada chegou. E todos podem cantar, pois o amor existe, mesmo que sua alma seja triste, mas ao amor ela não resiste.

Mas é triste dizer que o amor existe só para quem tem coragem. Coragem de dançar a música no outro.

Elany Morais

Todos os direitos reservados a Elany Morais

SEM ENCAIXE E SEM LACRE



 Sou assim mesmo: desajustada!! O externo não cabe em mim. Minha alma não abraça os nãos ofertados. A infâmia tremula meu coração. Minha revolta é inteira. Normas sociais são violentação de meu espírito. Cada injusti...ça me assusta. Meu coração vive assustado. Meia alegria me é dispensável. Quero felicidade vibrante. Inconsequência nem sempre me enjoa. Nada obedece meus comandos, nem mesmo a vida. Mas isso não me desespera.

O mundo me rejeitou. Ele não se encaixa em mim. Talvez, tenha declarado - me luta. Lutar me prende. E o tempo? Poderá privar-me da alegria. Preciso ver a minha paz chegar. As normas do mundo me apaga.

Tudo para mim poderia ter o sabor de Sol e Mar, porém, estou à revelia. O que soa estranho para muitos, canta nas minhas ramagens. Transmuto em jogos, jogos que quase ninguém sabe jogar. Assim, estou só, quem poderá falar minha linguagem.

A águia mora em meus olhos, vejo o ignorado ou não enxergado por todos aqueles que andam na pressa do ir para o vale profundo. É para lá que todos vão.

Meus sentimentos são terrivelmente absurdos. De tão absurdo tornei-me desajustada, sem encaixe. Na ansiedade de querer as coisas impossíveis, "desgraças viram encantos" para meu espírito inquieto. Mas mágoa não regam. Por não ter minha parte carregando minha misteriosa linguagem. Dessa forma, sigo sozinha, a falar comigo mesma, pois muitas vezes, aproximo-me do meu entendimento. É um caminho a percorrer: o meu encontro com tudo que é meu ou com meu eu.

Enquanto isso, não queiram que eu seja subserviente a dogmas, a falsos moralismos, à violência demente que não acopla a mim. Eu me costuro à liberdade, à individualidade....A tudo que é inerente à natureza do próprio ser. Não engulo comparações. Sou uma, parte e inteiro único. Não desenhe modelos para mim, pois eu sei ser. Eu sei ser eu. Engavete fórmulas, nenhuma me cabe, ou sou larga ou estreita, na minha forma de ser não há jeito.

Elany Morais

 Todos os direitos reservados a Elany Morais

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

VIVER, DÓI

Viver, dói. Queremos demais. Calamos para as coisas importantes. Surpresos ficamos com a ternura e aplaudimos a violência.

Viver é custoso. Nosso coração escurece na estrada do bem  existir.

E o amor? Ah, este torna-nos servos. Entramos num mundo de obediência cega. Perguntas  grandes não são feitas.

Nossa importância só se agiganta no passado. Sãos os outros que manuseiam nossos pensamentos. Ficamos antigos todos os dias com as saudade escuras. Já dizia Guimarães Rosa: " saudade é uma espécie de velhice."

Invertemos  o que poderíamos ser: nossa pele é doce, nosso sangue é amargo. Julgamos saber o que não questionamos. Alicerçamos no imaginário. Ninguém tem mais coragem do que temor. Sentimos apenas o que é nosso. O outro é folha morta. O mar é o sentimento sozinho.

A vida  é do tamanho do nosso mundo. Se não temos força nas nos braços, ela nos tem nas mãos. Sutilmente o viver vai se vestindo de toda sorte de ingratidão.

A alegria, esta até parece flecha, se chega com força, faz líquido brotar de nós. Mudar é caro.

Elany Morais
 
Todos os direitos reservados a Elany Morais

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

"NAVEGAR É PRECISO"

É com muita perspicácia que vou caminhando devagarinho, abrindo veredas estreitas por dentro mim. Não foi tarefa fácil adentrar esse mar de fortes ondas. E onde o mar não é manso é sempre por demais perigoso. Com muita cautela preciso continuar a navegar nesse agitando mundo interno.

Na minha aventura a alma a dentro, tenho desatado nós feitos a olhos fechados. Nós que me apertavam, que me vendavam, torturavam-me e sufocavam-me... Eles faziam de mim uma caixa de mistérios inacessíveis.  Mas nas curvas do meu eu, eu era inocente. Agora, com meu barco, vou me surpreendendo comigo, deparando-me com um Eu que eu ainda não tinha encontrado. Eu existia, mas eu me desconhecia.

Indescritível foi me ver como algo digno de ser olhado, observado, desvendado... Em meu novo EU não era encontrado vestígio do que eu acreditava ser ou apenas parecer. Nesse, eu via reflexos, manchas, máculas do mundo externos. Tais manchas até poderiam ser impregnadas, fixadas para a existência eterna.

Porém nunca firmo contrato com a infelicidade. Removidas serão todas as cicatrizes postas e impostas  no meu mundo interno. Andar continuarei no meu labirinto com  o objetivo de abrir novos caminhos, não mais estreitos, mas largos , por onde eu possa passar sem me perder, ou me prender.

Continuarei, se meu barco furar, remendarei, farei promessas para as ondas amizades comigo fazerem. Assim, terei mais um remador  comigo e, não um antagonista nas minhas navegações em mares revoltos para minhas descobertas. " Navegar é preciso", já disse o poeta. "Continuar em mares nunca navegados" é salvar-me de me perder ou nunca me encontrar e abandonar tudo que não é meu.

Elany Morais

Todos os direitos reservados a Elany Morais

domingo, 8 de dezembro de 2013

INFÂNCIA PARTE III



 Aquela foi uma de muitas das noites demoradas. Vestia-se com o fio da infinitude. As nuvens com suas vestes brancas colocavam sobre minha cabeça suas mãos para consolar-me. As estrelas, todas pareciam se aninharem sob...re meu colo, na tentativa de não me deixar sozinha. Os grãos de areia segredavam-me que não adiantava desesperar-me.

A ausência daquela que devia me proteger, jogava-me nas sombras do que eu ainda desconhecia. Essas sombras ganhavam vida própria diante dos meu olhos que somente tinha a cor e não a extensão do mar.

Meu pensamento limitado dizia-me insistentemente que eu estava entregue ao destino, sem bagagem, sem documento, sem vestes, sem escudos... Eu estava entregue a um futuro duvidoso.

Por vezes, eu exigia que meus gritos silenciassem-se para que eu pudesse ver e ouvir o que existia no silêncio da noite. Eu queria saber qual perigo me espreitava. Surpresa com os adiantados das horas, eu ouvia, bem próximo de mim, o cantar de um pássaro que vagava como eu no silêncio da noite. Ouvir tão canto, acreditava eu que aquela ave sabia que eu desejava uma cantiga de ninar. Eu dizia baixinho: o mundo é só nosso. Existem apenas dois habitantes nessa imensidão: eu e você.

Revisitada pela respiração, eu ensaiava mais um grito. Um grito cheio de esperança de vozes. Meu anseio era desesperado para que meus ouvidos ouvissem, mesmo que bem distante, uma voz que me dissesse: "já vou."

Era um grito, dois... E assim se sucediam muitos de muitos, respostas desejadas eram negadas. Era o mundo jogando sobre mim a sua pesada mão. Era o mundo me dizendo que minha estada não seria um caminho regado a brisas e flores. Indiferente, eu permanecia na tentativa de me salvar. Salvar-me do medo, da solidão, do abandono , do desamparo, do desespero...

Eu precisava de comandante para minha vida. Eu não sabia o que fazer de mim. Consciência eu tinha da minha existência e que eu tinha que lutar com todas as forças para preservá-la.


Elany Morais
Todos os direitos reservados a Elany Morais

O PRINCÍPIO DO FIM



  Sob as agarras da vida presa fiquei. Morrer, no momento em que se descobre que nasceu, é muito trabalhoso. Exigir férias da existência é precipitado. A morte com todos seus cuidados e disposição, cometeu a displicência ...do olhar minucioso.

Enquanto amarrada eu estiver nos braços da vida, vou a construir caminhos na certeza de que entre o ser e o não ser é apenas um sopro, um corte de tempo, um sentir, um gemido, um pó suspenso ao ar.

É pesado alicerçar o muro da existência a saber que tudo é apenas uma ideia que será desfeita num suspender de panos brancos.

Mas meu espírito, mesmo sem escudo, sem armadura, segue determinado, na construção da casa que não tem vida perdurável. Ele sente as mãos quentes do existir, do respirar, do sentir, sob os ombros como forma de consolo, a dizer-me isto: viver é morrer a cada passo, a cada caminhada, a cada segundo fluído, disperso, perdido, não observado, não sentido.

Minha alma ora se desbanca, ora se veste da crença do ser por tempo eterno. Porém isto é manto da ilusão. Ilusão de acreditar na não desintegração da composição existencial.

O hoje é a certeza de que o amanhã não existirá, contudo, a alma não aceita que o fim vai chegar.

Elany Morais

Todos os direitos são reservados a Elany Morais

sábado, 7 de dezembro de 2013

HÓSPEDES INDESEJADOS



 Queria eu que as memórias do passado fosse como letras escritas a lápis ou digitadas. Assim muitas inutilidades deixariam de ser borrões que apenas entulham o presente.
Memórias devoradoras não deveriam ser como carimbos seladores de uma existência mendigada. Uma borracha que não fosse produto de uma propaganda enganosa serviria para suprimir, sem deixar nenhum vestígio daquilo que nunca foi indispensável.

O que tais memórias podem desempenhar num presente cheio de olhos, visões e questionamentos? Sem a possibilidade de supressão desses relâmpagos, fico tecendo fios do que já passou. Engravido minha alma de empurrões daquilo que nunca justificou o ato de existir.

A impotência de eliminação me lança no mundo do silêncio, na quietude...Jogo-me no meu estar invisível. É nesse terreno eterno que cultivo a dor que já foi, mas se faz presente. Minha mudez enclausura o inapagável.

Queria eu que todas as sombras do passado desfizessem-se no chegar da luz, assim novos lugares desocupados seriam no meu comprimido espírito de tantos rascunhos injustificáveis. Mas a imperfeição tem sua proteção. Esse passado é fruto para uma missão de contrariedade do que me é necessário.

A confirmação do meu indesejado passado apresenta-se para mim como um pássaro, que eu poderia dizer: pássaro negro, mas não, é um como pássaro de qualquer cor, pois todos fixam suas garras de onde não têm pretensão de se desgarrar.

Mas diante das teias da impossibilidade da supressão das memórias cortantes, minha alma luta incansavelmente, mesmo quando se recolhe para dentro. Esse recolher é na tentativa de encontrar a chave que abre a porta para a saída do que não me alimenta, mas que só suga, a todo momento, meu limitado vigor.

Minha teimosa fé diz que tudo será limpo, varrido. Então, no salão haverá festas das boas lembranças. Estas ocuparão seu verdadeiro terreno, com o privilégio da ausência eterna de hóspedes intrusos.

Elany Morais

Todos os direitos reservados a Elany Morais




VOU INDO



 Eu vou indo, dançando a canção da vida, permitindo-me amar sem pudor e sem culpa. Agora sou senhora de mim, permito-me as pequenas coisas que antes eram grandes, mas não permitidas.
Hoje me permito o banho de chuva, o correr desarrumado, o grito frenético, permito-me ficar na minha companhia, pintar o sol de rosa, parar diante de uma prosa, permito-me cantar sem ao menos saber a letra, subir no telhado, contar os grão de areia... E assim vou indo no caminho da prodigiosa permissão, sem medo do julgamento alheio.
Na valsa da vida, nem todos os passos são permitidos, os compositores vetam a liberdade do vir a ser, mas estou a me permitir fazer a minha própria composição, criar meu próprio ritmo, dançar sem nenhuma amarra, pois permito-me o direito de valsar sozinha, sem limites impostos a minha alma que não deságua nos desejos fora de meu ser.
Vou seguindo, a pular as leis dos infelizes, permitindo-me a respeitar o que brota dentro de mim. Permito minhas contradições, sem me pregar no pau madeira, as minhas suscetibilidades, sem me jogar na cova dos leões. Permito-me ser sem o jogo do parecer, sem querer entender tudo que envolve o viver, vou apenas sendo, a permitir o que me vem a sentir, sem me delinquir.
Hoje faço acordo de permissão com minha loucura, faço o que me faz feliz com muita fissura, sem me esconder em armadura. Permito-me entender que tudo com amor leva-me a cura.
Enfim, permito-me entender assim: que tudo que nasce de minha alma faz parte de mim. E vou indo, a permitir-me a seguir minhas liberdade antes que minha lucidez chegue ao fim.

Elany Morais


Todos os direitos reservados a Elany Morais


quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

VER O INVISÍVEL

Existem olhares que não se repetem. Penso que meus olhos são pequenos demais, porém sinto que eles  querem abarcar o mundo em fração de segundo.

Meu olhar se alimenta do silêncio. É na quietude do mundo que ele se deleita com a beleza quase imperceptível das coisas.

Quando as horas ainda dormem, ponho meus pés para cumprir seu papel, e meus olhos agradecem. Nesse momento, vejo que a natureza dispõe de um repertório fascinante de coisas sensacionais e belas.
A cada passo, detenho-me a contemplar um pássaro que faz seus movimentos espetaculares no banco da praça. Ouço sua voz, seu cantar, sua festa...Então, ponho-me a pensar que muitos ainda são privados da verdadeira beleza e pureza do mundo.

O espetáculo natural se apresenta aos meus olhos como  a mais completa representação da vida. Por isso, nos meus passeios matinais, minha alma mergulha nos detalhes naturais. Meu ser se rega de cuidados, para não ceifar a vida de quem está em paz: Na pequenez de minhas retinas, vejo ampliada aquele pequeno ser: a formiguinha, que não tem nada de INHA para meu ver e sentir. Ela se agiganta na minha direção, ensinando-me lição de persistência e valorização. Não piso sobre tal existência, visto de paciência na tentativa de atribuir olhos e sensibilidade aos meus impiedosos pés. Piso com cuidado, com delicadeza em respeito àquela que sabe viver.

Constantemente, paro, e o cenário se desenha na minha face. Sinto que aquele palco do mundo é divido somente com as pessoas que conseguem enxergar a verdadeira beleza do mundo.

Elany Morais


Todos os direitos reservados a Elany Morais

 

INFÂNCIA PARTE II



 Cresci entre cajus e bananeiras. Nada de tardes fagueiras.

Lembro-me daquele homem austero, de feições de pouco prazer. De muitos amigos, mas de poucos pedidos. A cada dia, ele me ensinava que não se devia pedir. Pedir... era o manto da humilhação.

Todos os dias, eu me detinha a contemplar o rosto daquele senhor, na tentativa de descobrir seus verdadeiros sentimentos pela minha franzina pessoa. Porém, isso não era atividade de fácil execução. Ele parecia um cofre trancada às setes chaves.

Eu sabia que ele não era meu pai, contudo, eu não compreendia por que não podia ser. Eu brincava de faz-de-conta que ele me guardava. Para mim, existia um imenso mistério nos passos do meu pai de brinquedo. Frequentemente, ele entrava e saía por uma porta. Eu parava, fitava-o com um olhar curioso e desconfiado.

Meu desejo de cometer um crime era grande, incontrolável. Meu temível crime era perguntar o porquê de seus passos soarem pela soleira da porta, por que o vulto dele sumia dos meus olhos sempre. Eu sabia que minha boca não podia abrir, minha língua tinha que ficar quieta. Algumas vezes, a furto, segurei a minha faladeira, mas parecia que ela já possuía o espírito da desobediência. À muito custo, conduzi meus passos para embaixo de uma mesinha na sala. Mesinha? Digo mesinha hoje, pois na época, esse objeto parecia a ponte do Rio Niterói. Eu não percebia que meus olhos eram do tamanho do mar, por isso tudo parecia maior do que realmente era. Penso que o amor daquele homem nem era grande como eu pensava, mas como saber? Ele já dorme no pó da terra, também não sei por que não posso mais ouvir seus passos na soleira da porta. Tudo é mistério.

Elany Morais


Todos os direitos reservados a Elany Morais

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

TARDE VAZIA



 No fim da tarde o sol amansa
Trazendo uma profunda serenidade
Meu corpo da labuta descansa
Vivendo uma doce intimidade....

Vozes voam a ficar o silêncio
Vem o medo sem a claridade
As lágrimas molham o lenço
Restando somente a saudade.

A solidão vem como lança
Em todos esses momentos
Tento fugir das lembranças
E do cruel isolamento.

Elany Morais

Todos os direitos reservados a Elany Morais