Por Elany Morais
As mulheres não estão seguras nas ruas, no trabalho, na balada, na igreja, na escola, no berço nem na própria casa. Os meios de comunicação, sobretudo a impressa, confirmam isso ao colocar em evidência a todo momento o fenômeno social da violência contra mulheres.
Em pleno século XXI, ainda há discursos que legitimam apropriação masculina sobre os corpos (a vida também) femininos, reproduzindo, assim, a cultura patriarcal ainda vigente em nosso país. Só lembrando que a cultura patriarcal desenvolveu-se no Brasil a partir da colonização, sendo que nesse contexto, as mulheres eram privadas do acesso à educação e à cidadania política. Além disso, eram extremamente reprimidas em sua sexualidade, consideradas irracionais e incapazes, controladas em tudo.
A violência contra as mulheres existe porque houve uma construção desigual do lugar das mulheres e dos homens na sociedade . É inegável que a desigualdade de gênero é a base de onde todas as formas de violência e privação contra mulheres estruturam-se, legitimam-se e perpetuam-se, até mesmo quando há discursos que empoderam o agressor masculino e culpa a vítima feminina.
A narrativa é esta: se você estiver na rua, com seu celular na mão, e você for roubado, a culpa é sua porque não guardou o celular. Ou seja, se a mulher estiver na festa, ou na na rua, bebendo, usando roupas curtas, ela deve ser estuprada, porque ela não tem o direito ( não é livre) de fazer o que desejar. Na minha concepção, é um pensamento absurdo.
É fato que há conquistas dos direitos femininos no plano legislativo, mas, infelizmente, os moldes da soberania masculina ainda existe. A mulher ainda é posta na esfera do privado, onde a força masculina reina, fazendo uso da violência, na maioria das vezes.
No século XX, o escritor Lima Barreto denunciava a violência contra mulher em sua crônica intitulada NÃO OS MATEM, onde ele narra um caso de um rapaz chamado Deodoro, em que este quis matar a ex-noiva e, logo depois, suicidou-se, configurando-se, assim, uma revivescência do domínio do homem sobre a mulher. Em seguida, o escritor cita mais dois casos que ocorreram na época de carnaval, o primeiro noticia que um outro rapaz atirou sobre a ex-noiva, que veio a morrer dias depois com uma bala na espinha e, o segundo, em que o homem, pelas bandas do ex-futuro Hotel Monumental, alvejou sua ex-noiva e a matou.
Então, esses episódios nos remetem a alguns acontecimentos atuais? Ou esse tipo de ocorrências ficou nos séculos passados?
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