Sou educadora e escritora

sexta-feira, 23 de agosto de 2019

A VIDA TAMBÉM É ASSIM

A vida também é assim...
Quando vejo pessoas bondosas, delicadas, logo fico desconfiada. Mas existe gente boa, sim.
Hoje, às 15h30min., eu deveria me submeter a uma biópsia mamária. Porém, às 12h40min. eu já estava no local do exame. Então, estava eu ali, sentada, desolada, pensando no tempo em que eu teria de ficar a esperar, quando dez minutos depois, a médica aparece e me diz:
- Vamos fazer o exame agora! Quando me ligaram, dizendo que você estava aqui, vim correndo. Está pronta para isso?
Eu abri os olhos, minhas pupilas dilataram-se, minha voz introjetada, saiu meio embargada:
- Pronta, não estou, mas se tenho de fazer, vamos lá...
A médica e sua auxiliar com tanto cuidado e gentileza comigo que pensei:
- Devo estar morrendo, porque a gente só é bem tratado, quando se está nos últimos suspiros. Há sempre uma preferência de nos vermos mortos, pois, quando se morre, nossa casa enche-se de visitas, são palavras de saudades, admiração etc...
No memento do exame, vejo a médica introduzir um ferro no meu peito e diz:
- Você ouvirá um disparo, como se fosse um pistola, não se assuste, é assim mesmo.
É nesse mesmo instante que ouço a explosão e me assusto, então penso:
- Eita, ela arrancou um pedaço do meu coração! Certamente, sairei daqui fria e sem alma.
O procedimento se repete por quatros vezes. Sinto um líquido quente escorrer lentamente pela minha pele. No pensamento de que minha vida esvaía-se lentamente, eu pergunto:
Está sangrando muito?
Ela responde:
- Graças a Deus, não! Muitas pessoas sangram, mas você, não!
Penso:
- Ah, se ela soubesse que todo meu sangue já saiu nas poesias que li ou escrevi.
Não costumo prestar atenção nos clínicos ou clínicas, mas hoje resolvi olhar para a médica que me atendeu, por um único motivo: eu queria saber se ela era gente. Alguém tão humano e delicado... Não sei... Tenho minhas dúvidas! Era uma senhora lindíssima, pele delicada, cabelos tão bem arrumados e tratados. A voz agradabilíssima! Pensei:
-Deve ser anjo disfarçado de gente.
No instante em que cogito isso, ela me diz:
- Deve ter sido Deus que te enviou nesse horário. Geralmente, nesse turno, minha vida é uma loucura! Fiquei sem acreditar quando me disseram que você estava aqui e eu estava mais folgada.
Fim do exame, ela me diz:
- Este é meu número, qualquer coisa, ligue-me, a qualquer hora - que te atenderei.
Ao ouvir isso, meu coração disparou, dizendo-me que eu ainda não tinha me desvencilhado totalmente dos braços da morte.
Saí tranquila da sala, quinze minutos depois, minha visão embaçou-se, meu corpo desaparecia lentamente, pensei:
- Estou morrendo! Mas nem é tão ruim assim! Adeus mundo cruel...
A sensação era de que eu estava partindo, sem levar ou deixar alguma saudade. Mas não parti, era apenas um ensaio. Ainda estou aqui, e escrevendo.
Elany Morais

domingo, 18 de agosto de 2019

RELANÇAMENTO DO MEU SEGUNDO LIVRO LUZ E SOMBRA


Não podemos negar que a vida - mesmo que de vez em quando - nos brinda com situações venturosas de muitas alegrias e satisfações. Ontem, 16 de agosto, foi um desses momentos. Estive a relançar meu segundo livro intitulado Luz e Sombra, na III Feira Literária de Codó (evento cultural riquíssimo que vem acontecendo há três anos na cidade).
E por que não compartilhar esse acontecimento com as pessoas que estão diariamente comigo? Pessoas que vêm acompanhando minha vida , assim como eu também acompanho a delas.
É muito gratificante gritar por si e por quem não sabe ou não pode gritar. Poder dizer a sua palavra, que na maioria das vezes não é só sua, é algo realizador, libertador e, portanto, salvador. Ontem, foi assim que me senti: realizada e gratificada!
Estou sempre a dizer: a pessoa que me lê é uma pessoa de coração aberto, sensível... E peço mais: quem for ler Luz e Sombra e Muitas de Mim, leia sem julgamento, sem preconceitos e sem grandes expectativas, pois só assim poderá se identificar ou se encontrar nesses livros.

terça-feira, 6 de agosto de 2019

EU DIGO NÃO À DIVULGAÇÃO DE IMAGENS DE VÍTIMAS DE QUALQUER TIPO DE VIOLÊNCIA

"Mostrar o inferno não significa dizer-nos algo sobre como retirar as pessoas do inferno."
Atualmente, tanto o ato de violência quanto a divulgação de imagens das vítimas banalizaram-se. As cenas de horrores espalham-se "como uma mancha de óleo."
Há desnecessidade de entrar em nossas casas descrições macabras, assustadoras, instabilizantes da prática de violência. Vê-se pormenores sendo explorados com tamanha morbidez. Tal prática, infelizmente, gera habituação com a crueldade.
Essa envolvência constante com atos violentos opera-se em nosso psiquismo uma quase aparente apatia permanente perante a violência. A maioria de nós é capaz de estar a ver no telejornal ou na internet as notícias sobre um acidente, onde surgem imagens de pessoas mortas e feridas (imagens que sendo de grande dor são, também, de grande violência) e, no entanto, continuar a comer o jantar sem qualquer incômodo.
Ou seja , a convivência constante com a violência, que nos entra pela casa, pelos olhos e pelos ouvidos, torna-nos indiferentes, apáticos, distantes à própria violência, mas, pior do que isso, torna-nos coniventes com ela, porque as vítimas reais começam a ser para nós meros bonecos televisivos . A violência que nos envolve acaba por nos tornar profundamente egoístas, perante a dor alheia, ao ponto de só sermos sensíveis à violência que nos afeta diretamente.
Elany Morais

domingo, 4 de agosto de 2019

VIVER É PERDER


Por Elany Morais 
O viver dos outros e o da gente é assim: a vida apenas finge que joga uma carta para ti, outra; para mim. Convence-nos de que a morte mascara outra realidade desconhecida, porém com a possibilidade de paz, descanso e felicidade. Mas na verdade, a vida faz isso porque quer esconder a sua sutil face trágica. Quem não percebeu ou viveu perdas gradativas, ao longo da existência? É isto: viver também é perder. A vida segue, e as perdas vão se desfilando, desfiando, crescendo, avolumando-se até onde não se tem mais o que perder, restando apenas aquilo que talvez não se queira mais, essa, sim, é a verdade extraordinária. Não há do que se surpreender. Isso não é um escândalo. "Estamos num beco sem saída". Estamos na vida. Vamos perder sempre o que mais se quer. Ser é trágico. Viver é um circulo vicioso de perde -e- ganha. Ou não se ganha. Ganhar na vida é ilusão. Há apenas um empréstimo, sem aviso prévio de nos ser tirado aquilo que aparentemente nos foi dado.
Como é difícil jogar sem cartas! Como ganhar sem saber as regras do jogo? Não temos chance. Já nascemos vencidos. Perder é o castigo de ser e estar. Até a coragem nos negam para retornarmos. Retroceder não é possível. Avançar também é caminhar para o final, o final do ser, do estar, do quer... Aqui é o auge do perder. Em fim, na vida, perde-se tudo, até o querer não perder.


Todos os diretos reservados a Elany Morais