Sou educadora e escritora

terça-feira, 31 de março de 2015

SAUDADE

SAUDADE
Elany Morais

Nesta vida, perdemos sempre. Não sei ainda o porquê de perdermos somente as coisas boas. Talvez isso aconteça para que exista a saudade em nós. Saudade dói. Não bastava o cofre de dores que a vida nos oferece, ainda nos abraça esta, apertando nosso peito sem dó.

A saudade não pode nos vermos quietos. Está sempre nos lembrado de pessoas amadas que não estão mais sentindo o calor de nossas mãos, de momentos que vivemos na velocidade de uma raio, isso porque os melhores momentos são sempre acelerados pelo tempo. (Ah, tempo invejoso!) Também sentimos saudade até mesmo do que não se viu, não sentiu nem viveu.

A saudade sempre nos lembra dos passos contrários que demos diante do que nos fazia bem. E para avivar nosso desejo de voltar ao passado prazeroso, existem as fotos. Embora estas amarelam, embaçam-se, mas trazem sempre, para nós, o cheiro saudoso do que passou e jamais voltará para nossa vida. Mas para não oportunizarmos tanto a saudade, é bom que, no momento presente, despeçamo-nos direito de quem vai partir, sem promessa de volta. Vamos aguçar mais nossa visão e audição  para quem passa correndo, por nós, mas deixando conosco o cheiro das rosas. Vamos dizer adeus devagarinho para quem viveu felizes momentos conosco, mas não consegue desamarrar as palavras, na hora de partir.

Por fim, digo: que o nosso cansaço diário não recorra à saudade. Que possamos fazer do presente um momento feliz, a ponto de não recorrermos ao que já se foi, na ilusão de que possamos ser felizes com o que não pode mais voltar.


Caxias - MA, 29 de março de 2015.

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domingo, 29 de março de 2015

DEFINO-ME

DEFINO-ME
Elany Morais

 Hoje, acordei disposta a pensar para dentro, na tentativa de definir-me. Penso que agora tenho muitas definições a meu respeito. Eu era indecente com a dor e com o tempo, mas descobri que tanto uma quanto o outro são inevitáveis, impositivos, dessa forma, só me restou a considerar com resignação o que dói em mim, a cada hora. Sei que existe o tempo de doer bem "direitinho". Também reconheço que a esperança gosta de vadiar de roda gigante. Ora sobe, ora desce. Percebo que em cada momento há uma espécie de esperança, porém, sem esperar.

Hoje, sei que fui escrava apenas de mim. Meu passado foi de total escravidão. Mas cortei as cordas do meu eu, porque a liberdade externa já não mais me satisfazia... Agora sou um ser borbulhante por dentro. Meu corpo implorou anos a fio por uma alma florida. Por isso, fiz o que me urgia e hoje sou o que preciso. Descobri que a dor não era o único caminho que podia me conduzir à felicidade ou que minha  felicidade não deveria ser boicotada pela dor.

Sem medo, posso dizer que sou tudo para mim. Se  o outro me faltar, não morrerei, porque agora sou inteira. Não sou parte de um todo. Eu sou o todo. Se eu não for atendida, não desmontarei, posso perfeitamente gritar para o alto, mas tenho que ser ouvida principalmente por mim.

Eu estava perdida dentro de mim, mas me persegui até me encontrar. Catei cada caco estilhaçado, fiz remendos, costurei-me com a paciência de Jó. Agora estou nos arremates finais, quase pronta, mas ainda estou fincando-me, construindo bases sólidas. Não tenho pressa nenhuma para ficar acabada, pois sei que este momento chegará, mesmo que eu não queira, e, quando isso acontecer, as palavras, todas elas ficaram presas em minha boca para toda a eternidade.


Caxias - MA, 28 de março de 2015.

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sábado, 28 de março de 2015

INSÔNIA

INSÔNIA
Elany Morais

 Quando se descobre o prazer de se estar sozinho, um padecer a menos. Mágicas acontecem. Nas últimas horas mortas da noite, meus olhos teimam em querer ver o nada. É nesse momento, que me ponho a arrastar os pés sobre o frio do chão. Se eu tivesse coragem de tomar um café, ele me cairia bem. Ouvidos esticados e atentos, mas só ouço o sibilar tímido do vento sobre as folhas de minha mangueira. Meus pensamentos todos sozinhos na imensidão do silêncio. Nada frustra meu nada. Sou eu num vazio desejado. Nem mesmo aquelas mensagens que me chegam, no celular, como se eu fosse a destinatária, interrompem meu sossego noturno.

Refestelada em minha poltrona, ponho-me a deliciar-me comigo mesma. Sou minha, o silêncio é meu. O poder de estar feliz é meu. Se outros olhos me vissem, nesse momento, julgaria-me uma anciã sem futuro, cansada, desejosa do sono eterno. Mas na verdade, eu estava ali apenas libertando-me do cárcere mundano.

De repente, percebo o dia mover-se devagarinho, a desvencilhar-se de suas cobertas, preparando-se para agir no mundo como  um moinho. Ouço um cantar duplo. Dois bem-ti-vis fazem o concerto matutino. Vou à janela, deparo-me com o sol a piscar um olho para mim, como se fosse cúmplice da minha insônia. Detenho-me ali por mais alguns instantes, a sentir o burburinho urbano crescer. O som dos pássaros é interrompido por uma batida um tanto superficial, era o marceneiro vizinho com suas armas de construção. Jogo os braços sobre a janela, com olhos fixos nas luzes da rua que ainda acesas estavam, eu percebia que era o fim do espetáculo delas, era hora de recolherem-se. As folhas de minha mangueira abriam-se vigorosamente, prontas para a batalha diária. Todos acordavam. As crianças pré-escolares choravam, possuídas pela preguiça matinal, penso que a leve frieza convidava os pequenos para o aconchego dos lençóis.


Enquanto o mundo despertava, eu precisava adormecer, mesmo que fosse por um instante só.

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quarta-feira, 25 de março de 2015

DESFECHO

DESFECHO
Elany Morais

Deixarei de ver do dia a luz brilhante,
De certo, esse desfecho está marcado
Meu corpo, por fim, será celebrado
E o destino será selado num instante.

Por que negar que a morte é operante?
De ninguém sua operação é de agrado,
Mas um dia, será ela o fim do meu fado,
A levar-me para outra morada distante!

Deitarei na curva do subsolo profundo,
Esquecida dos males e de toda ventura,
A deixar para trás o terreno imundo!

A desventura em vão sairá a minha procura,
Mas longe estarei das quimeras do mundo,
Apenas gozando da paz da sepultura!

Caxias - MA, 24 de março de 2015.


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terça-feira, 24 de março de 2015

FIGURA MISTERIOSA

FIGURA MISTERIOSA
Elany Morais

Perfil longo, pupilas-mar, corpo moreno,
Alvos, pequenos pés,  delgada, fina cintura,
Morbidez de gesto, uma triste figura,
Cabelos pretos, e passos pequenos!

Impossível aterrizar em meu terreno,
Mais voltada para frieza do que a ternura,
Vestida em finas vestes de cor escura,
Trazia em seu taça o amargo veneno.

Veio de longe, de alguma escura cidade,
Pode ter sido leve e feliz em algum momento,
Mas traz consigo recato dos neófitos frades.

Para o mistério parece ter todo talento,
De sua vida não se sabe qual é a verdade,
Porém, temo que haja algo de tão horrendo.


Caxias - MA, 24 de março de 2015.

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domingo, 22 de março de 2015

PAZ DA NOITE

PAZ DA NOITE
Elany Morais

É muita paz nesta hora
Em que foge a luz do dia,
Em que se irradia a luz da lua
Aplacando a dor que ardia.

Banho-me com sais marinhos,
Ponho-me com juízo assentado,
Minha mente calma medita,
Em sonhos mais enleados.

Caxias - MA, 21 de março de 2015.

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sábado, 21 de março de 2015

MEU REPOUSAR

MEU REPOUSAR
Elany Morais

É um repousar suave
Este que na mente
Eu sinto me acalentar,
Às vezes, é som grave
Outra é meio cadente
Esse meu repousar.
Alivia minha sombra
Que para mim era tudo.
Hoje reproduzo
O que não é sombra
Nem gesto carrancudo,
Apenas o branco e o veludo.


Caxias - MA, 21 de março de 2015.

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sexta-feira, 20 de março de 2015

UM DIA SEM MIM

UM DIA SEM MIM
Elany Morais

Quando eu puder, enfim,
Nem pensar nem ver,
Quando procurarem por mim,
Já não estarei mais a padecer.

Aliviada interiormente,
De lábios hirtos e cerrados,
A não sentir o frio ou o quente,
E esquecida dos velhos passados!

Já não farei conflitos ou lutas
Nem causarei mais algum dano,
Estarei alheia a qualquer labuta
Ou mesmo a contagem de ano.

Caxias - MA, 20 de março de 2015.

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segunda-feira, 16 de março de 2015

ANGÚSTIA
Elany Morais

Tenho angústias cruéis no espírito doente,
Acordo com um medo que é prematuro,
Ignoro a esperança de qualquer futuro,
Querendo apenas sair desse presente.

Quero uma paz que em vão procuro,
Quero tirar do peito essa dor potente,
Acordar disposta de encarar o poente
E dormir sem medo do terrível escuro!

Esta cruel angústia tira-me a harmonia,
Cegando-me para a luz que me alumia,
A fazer-me desejar ir para o céu agora.

Ter alma doente é como viver no nada,
Apenas sente medo em toda madrugada,
A ouvir sem trégua o espírito que chora.


Caxias - MA, 16 de março de 2015.

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domingo, 15 de março de 2015

OLHAR

OLHAR
Elany Morais

Não sei se o que vejo é amor em teu olhar;
Quando tu me feres, eu procuro um abrigo
Em qualquer concha ou em qualquer mar,
Com a esperança de um dia ser feliz contigo.

Não temo que meu ideal por ti seja desfeito,
Isso é desventura do mais puro romântico,
Se traída, eu for, ainda entoarei um cântico,
A saber que nessa vida, nada eu idealizo!

Como amante de ti, vejo teu sorriso terno,
Sentindo-me protegida com teu sorriso,
Nas noites escuras e chuvosas de inverno.

A única coisa que me causa terrível receio
É o teu indefinível olhar que me provoca
Quentes desejos de me achegar em teu seio.


Caxias - MA, 15 de março de 2015.

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sábado, 14 de março de 2015

NOSSO DESTINO

NOSSO DESTINO
Elany Morais

Nosso destino é amar. Querendo ou não,
Nas nossas finas veias corre a ternura.
Vejo em tuas formas tamanha formosura
Que não possuí-las é perder o firme chão.

Nosso destino é perder a liberdade,
Quando o amor no coração, por fim, se apura
Muitos sofrem do que se chamam desventuras,
Clamando, sem trégua, pela tal felicidade.

Nosso destino é cair nos braços da tristeza,
Quem, nesse mundo, dela não sofre?
Mesmo que alegria no peito esteja acesa,

Mas um dia ou outro de tristeza se morre.
Carregamos-na íntimo da natureza,
Não se importando, se para ou se corre.

Caxias- MA, 14 de março de 2015.


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quinta-feira, 12 de março de 2015

SORTE

SORTE
Elany Morais

Não, nunca me contaram que a sorte não era para todos. Jamais sofri um golpe de sorte. Mas ouço falar que muitas pessoas já foram pegas pelas pernas por ela. Às vezes, pelo simples fato de saber que alguém a possui, sinto-me agraciada, mesmo ela não sendo minha.

Acredito na sorte, embora eu não a tenho. Mas não há revolta, não. Ou será que ela mora comigo e eu não a reconheço? Se bem que todas as noite, o mundo se veste em uma capa preta e, num abrir e piscar de olhos, eu o esqueço, mas quando o sol abre os olhos, tudo volta de novo, da mesma forma como foram  todos os outros dias. Será isso sorte minha? Agora, penso que  o não aparecimento de alguém que desarrume as coisas nem as tire do lugar, pode ser sorte minha, como também de todos.  Quando abro os olhos, as mesmas árvores, as mesmas rosas, o mesmo céu, o mesmo sol estão tudo como eu deixara.

Talvez o cruzamento daquelas velhas linhas seja a minha sorte, como pode ser também o meu desconhecimento do nada que me aguarda.


Caxias - MA, 11 de março de 2015.

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quarta-feira, 11 de março de 2015

DESVENTURA

DESVENTURA
Elany Morais

Se por desgosto tu de mim partiste
Tão logo, desolada e descontente,
A tristeza será minha eternamente
Por deixar-te nessa vida tão triste!

Se um dia como divina me viste,
E meu ato isto não mais consente,
Saiba que meu desejo é ardente
Como em ninguém jamais tu viste.

Clamo a Deus por não merecer-te,
Se desgosto em teu coração ficou,
Perdoe-me, é desolador perder-te.

Sem ti, minha existência encurtou,
Viver já não me apetece sem ver-te,
Assim, o destino a minha vida levou.


Caxias - MA, 10 de março de 2015.

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terça-feira, 10 de março de 2015

QUE MULHER É ESSA!

QUE MULHER É ESSA!!
Elany Morais

Que mulher é essa, que me parece distante e fria!
Queria eu tê-la de novo, lúbrica, sobre meus fartos seios.
Já houve um dia que nossos corpos quentes de desejo ardiam,
Amando-nos, sem enxergar o que nós havia de feio.

Hoje, carrego, nos olhos, a mais pura melancolia.
De não tê-la em meus braços é o que mais tenho receio,
Minha alma desejosa, para ela, foi o que sempre dei
O que jamais para outra nunca daria!

Meu desejo é o que minha voz ainda proclama.
O que será de mim se ela não mais me ama??!!
Disseste que me tinha no corpo dela,

Mas no seu olhar frio, vê-me hoje como uma cadela
Que jamais me levará para nossa cama,
A não ser que me comporte como uma donzela.

Caxias - MA, 10 de março de 2015.

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segunda-feira, 9 de março de 2015

AMO-TE TANTO

AMO-TE TANTO
Elany Morais

E como não dizer que te amo tanto?
A tua ausência aflige-me como doença.
Pensar em te perder já é uma dor imensa.
Tu és para minha alma o maior encanto!

Sem ti, sou alma que vagueia em pranto
Como nuvem carregada no céu suspensa.
A voz se cala e jamais entoa um canto,
Chorando de saudade que é tão imensa!

Se tu abandonas minha amante alma
Sei que sem ti, definharei de saudade,
Teu amor é o remédio que me acalma,

Aflita, chamo-te com toda humildade,
Pois se me deixo ficar envaidecida,
Jamais tu voltarás para minha vida!


Caxias - MA, 09 de março de 2015.

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domingo, 8 de março de 2015

MULHER

MULHER
Elany Morais

Mulher,
Vestiram-te de formas:
 Casta e profana,
Sagaz e sedutora,
Guerreira e sacana
Honesta e sedutora.
Que poeta não te escreveu?
Que artista não te pintou
Com forma bela e sublime
Que no ventre vida gerou?

Mulher,
És sólida, visível, sensível,
Jogaram em ti o despeito,
Mas com graça inesgotável,
Tu alimentas a vida no peito!

Dos portões dos teus olhos,
Vertem lágrimas, amor e flor,
Sofreu as agruras machistas,
Mas não se entrega a qualquer dor!

Mulher,
Vem de ti ternura e brandura,
Paciência e  prudência,
Tens a força para suportar o desamor
De quem por ti não teve clemência.

Mulher,
Hoje é teu dia,
Mas não foi com tanta alegria
Que se criou esse tal dia,
Mas tu, mulher, jamais perderá
Essa tua infinita magia!

Caxias- MA, 08 de março de 2015.

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sábado, 7 de março de 2015

TEMPO, TEMPO...

TEMPO, TEMPO...
Elany Morais

O que fazer com tão pouco tempo?
Não sei se com esse tempo dou conta!
Mas como viver às pressas e dá conta
De mim e de tudo em tão pouco tempo?

Para dar conta de tudo em pouco tempo,
Não perco tempo fazendo inútil conta
Se a mim e ao mundo tenho que prestar conta,
Preciso cuidar para não perder tanto tempo.

Se comprometo-me em prestar conta
Não posso perder tempo com passatempo
E, muito menos, com o que não é da minha conta!

Se um dia eu me dispuser a gastar tempo
E não conseguir de nada da conta
Não poderei dizer que tive pouco tempo.

Caxias -MA, 07 de março de fevereiro de 2015.

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quinta-feira, 5 de março de 2015

IMUTÁVEL


MUTÁVEL
Elany Morais

Em cada espírito há um dor que fere o peito,
Não se vê, não se pega, mas é transporte
Para o persistente ou talvez para o mais forte
Compreender e aceitar um mundo tão imperfeito!

Por que não dizer que nos espera um frio leito?
Ah!! Todas as almas trazem sempre a mesma sorte
Que é padecer com a velhice e a cruel morte,
Sem perdão, sem saída e sem respeito!

E assim, com todos os mistérios é a vida
Que traz dores até as nossas estranhas
Por razões totalmente desconhecidas!

E quando se sente que o fim está tão perto
Quem dera poder fugir para as montanhas
Ou para o sossego dos mais longínquos desertos!


Caxias - MA, 05 de março de 2015.15.

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quarta-feira, 4 de março de 2015

CRISE

CRISE
Elany Morais

Eu poderia dizer que ando em crise com a vida, mas é a crise da vida que anda comigo. Em alguns momentos, tudo faz sentido, porém, em apenas alguns segundos, tudo perde o sentido, ou talvez mesmo, nunca tenha tido sentido algum. Ora a vida parece ridícula, é uma busca que não se sabe de quê nem em qual lugar. E esse mundo  exige mais meu funcionamento do que o meu viver! Essa pregação de vida eterna, na terra, não me desce porque isso é ilusão! Já disse Arnaldo Jabor: "a vida é uma ejaculação precoce." É uma corrida atrás de um futuro que nunca chega nem chegará, desconfio da inexistência dele.

Caxias- MA, 04 de março de 2015.


segunda-feira, 2 de março de 2015

MOBILIDADE

MOBILIDADE
Elany Morais

Não me custa mais dizer que não me fixo em coisa alguma, nem mesmo a contar as partes do tempo. Por anos a fio, fui raiz do que não me alimentava. Meu tronco apodrecia por vezes. Hoje, não me proponho a envelhecer no vazio.
Não me custa dizer que não floreio em terra única. Agora, solteio-me, em qualquer tempo e em todo lugar. Minha casa é móvel. Visto o que me cabe em perfeita forma. Se me prende, se me afoga, se me aperta, eu viro o jogo com ou sem cartas. Para mim, não há mais azar em jogo.
E por que não ganhar mobilidade numa vida que não é fixa? Fixação só em amor que é dez. E o resto? Esse não me culpa, não me amarra nem em seduz. Viver de dois em três é um desafio para quem quer viver como deseja. Cansei-me do um, do para, do fica, do não pode, do espera, do não vai, do se... Agora parto e reparto o que era apenas para ser parte única ou um inteiro eterno.


Caxias - MA, 02 de março de 2015.

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domingo, 1 de março de 2015

VIAGENS

VIAGENS
Elany morais

Vida de viajante não é coisa frágil e fácil. Adaptar-se a um vai-e-vem diário é como preparar um prato com ingredientes desconhecidos. Assinar um contrato de idas e vinda exige coragem, não é para qualquer um, pois o imprevisível e o não cabível está sempre cabendo dentro das malas.
Viajar quase todos os dias, pode cansar, mas nunca se fica vazio. A preguiça não se alimenta, portanto, não se cria. O contrário do que se pensa, seguir sempre de malas prontas é tarefa para os sensíveis.
Há muito tempo, eu não prestava sentidos à vida de viajantes. Pensava eu, que eles possuíam coração de gesso: branco e bronco. Tudo ilusão. Só se sabe de algo quase de certo, quando os fatos batem à porta de seu coração, do contrário, é só especulação.
Viagens é uma missão que venho carregando, não sei bem se é missão, mas é algo que não me larga a mão. Existem dias que eu a arrasto como se tapete fosse sob meus finos pés, outros; faço dela uma festa sem precedentes. É assim mesmo, cada um se mata ou vive como quer.
Viajar é limpar olhos. Durante as viagens, vejo bichos, plantas, coisas e pessoas, mas não me dou para coisa alguma, porque meu passar é com passo apressado. Pode-se até pensar que viagens é sinônimo de novidade, nem sempre. Em algumas vezes, meu cérebro fica cheio do novo, mas isso depende de meus olhos, se eles dormiram bem, se estão zero quilômetro, o novo não se esconde, até o que já era velho se renova.
E assim, vou seguindo de malas prontas, sempre dispostas a seguir viagem, mesmo que eu tenha bagagem ou passagem.

Caxias - MA, 01 de março de 2015.