Por Elany Morais
A música são gestos
que se tocam. Acalenta a alma. É ela que abre o ouvido, a revelar o sentido que
a vida tem ou nos convêm. É uma voz que
responde. Está sempre a deixar uma porta entreaberta, a revelar qualquer verdade
que repousa encoberta. Diante dela, saudades viram lágrimas ou risos soltos,
pálidos, perdidos... Como uma lágrima pode manter-se endurecida diante de uma
música?
A música derrama-se
em corpo aflito, a causar mutação. Nas malas musicais, sempre haverá memórias.
A melodia pode apontar o caminho do sol, esfriar um rio de lavas e encher-nos
de polidas palavras. Há sons que podem
até serem tépidos, mas servem de remédios para profundas feridas.
Não importa se algum
espírito peneira o ritmo, pois o movimento de dentro para fora sempre se sacode.
Nunca haverá desabrigo. E se a música é voz soprada, alguma entranha será eixo
vibratório. Ora ela pode ser aquele silêncio inigualável que suaviza os males
da dor, ora poder ser aquela raiz frágil que te deixa vulnerável.
A música pinta de
verde as folhas ressequidas. Há sempre uma harmonia entre música e flor e entre
arte e dor. A música acorda a mansidão da consciência, movimenta a nostalgia,
dá asas, dinamiza espaços, joga-nos ao comprido... E quando se ouve as nuances
do som, o pensamento se alarga, dilata-se, expande-se... A música nunca se
repete, renova-se a cada ouvir, a cada sentir... Tira-nos do apodrecimento.
Quem nunca foi
denunciado pela música? Quem não tem medo de revelar o seu eu mais secreto,
abraça-a fervorosamente. Enfim, apesar de tudo, a música é tudo. Pois ela é
arte e, como diz Ferreira Gullar, " a arte existe porque a vida não
basta."
Caxias - MA, 27 de
fevereiro de 2016.
Todos os direitos reservados a Elany Morais
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