Sou educadora e escritora

sexta-feira, 8 de julho de 2016

O CIÚME MAL EDUCADO


Por Elany Morais


Denuncio o horror alucinante de me consumir. E o que me consome tem nome: é um querer insatisfeito, é um ter menos do que se quer, é um querer mais do que se tem. É a dor do imaginar. É a azia da alma.
Foi isto que aconteceu: o amor em mim adoeceu. Laçou-me o ciúme, com seus tentáculos da vaidade, da insegurança, do controle, da posse, do pertencimento...Em vão as tentativas de desvencilhar-me. Nasceu e cresceu, em mim, um querer apressado, afobado, solitário, tirano, mártir e martirizador... Faz-me andar na corda bamba. Imerge-me na vulnerabilidade. Joga-me na incivilidade, pois é um ciúme mal educado. As censuras são instantâneas, as perguntas são à queima-roupa. O interrogatório é sucessivo - não para nem respira. O fiasco é parceiro. A cobrança é imediata. A conta não tem juros. Não há tempo para premeditação nem para dissimulação. Nada fica para depois.Tudo é delírio. Flores já não há mais. Braços e abraços, os da sombra. O peito, lugar de blasfêmias e injúrias. Um desespero sem fim. Até o riso é pavoroso. É um show de miséria e embriaguez.. É o mal que nasce. A carência vira crime e a felicidade é apenas sonho.
Denuncio o horror desvairado que me traga. Os dias tornam-se sombrios, e as noites; lentas. E me desgasto no outro. Viro cinzas só. As fantasias são ridículas e cruéis. A mente aliena-se. A desvalia ganha força e sombra. O rebaixamento; altura e forma. Enquadrar-se na idealidade do outro não é possível. Encolher-se parece ser destino. A desvantagem moral não perde a vez.. O temor da comparação não se faz ausente. As suspeitas crescem. A desconfiança envelhece. É o verme que não some e me consome. Como disse Machado de Assis:" é o ciúme gerado no lodo mortal".
O ciúme é isso, mas também é aquilo. É aquilo que te morde, que te rasga, que te sangra, que rouba teu alento, tua vida, é o que te corrói o mais profundo da alma.

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