O mar é, sim, vozes vindas do céu. Este diz-me que aqui ainda jaz uma estaca presa nos ombros de quem ainda sabe amar direito. Brada que na correria, olhos cegam-se diante de tanta beleza gratuita, que o tempo dos retalhos extinguiu-se. De lá, vem uma voz azul, a confessar-me que neste velho monturo aparência é decência e tapete florido já não se constrói mais.
Se haverá mistérios desfeitos, não serão os das previsões passadas. Mesmo assim, ainda ouço o mar. Às vezes, sua voz é tão doce e macia que parece pétalas vermelhas suspensas no ar. Em estado de atenção, ouço - o dizer que numa estrada longa, há um leito refeito, entre ninhos e flores para os puros descansarem. Não duvido disso. Mas posso, em sonhos, perder-me e não querer jamais me encontrar.
Meus ouvidos estão atentos para as vozes que vêm de lá. Avisam-me que a desconstrução assalta a tudo e a todos. Que é preciso linha de ferro para manter-se em sua forma original, que é a do bem-querer. Há máquinas produtivas do mal-te-quer. Há inteligências cruéis. A violência é rainha posta.
Ainda hoje ouço o mar. São vozes sábias, apesar de me dizerem verdades pálidas e feias, ainda consigo, com elas, me encantar.
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