MENDIGA DE MIM
Elany Morais
Não me venham dizer que dar certo na vida é ter dinheiro. Passei uma
parte de minha vida tentando descobrir o que me faltava. Eu sabia que a mim
faltava tudo. Registro aqui com todas as letras: havia um buraco negro, sem fim
e sem fundo sob meus pés. Se não morri na guerra da sobrevivência, se não fui
enforcada pelas fatalidades da vida, foi para encontrar a forma de como ser ou
viver melhor.
Eu andava à deriva, em busca de um herói ou heroína que me salvasse, e a
salvação só poderia vir através do entendimento, o mais parco que fosse. Só o
entendimento seria capaz de me redimir e me lançar no verdadeiro sentido da
vida. Faltava-me saber como se amar, como se aceitar, como se cuidar. O foco
era eu, mas não era eu. O objeto de cuidado deveria ser eu, mas eu estava no
outro.
Nunca eu havia lutado em meu favor, de forma pura e gratuita, a esperar
de mim somente o que eu realmente fosse. A satisfação era ausente de mim. Eu
não compreendia que amar-se era algo tão necessário quanto sério. A minha
essência não estava ao meu alcance. Meu amor e meus cuidados eram disformes. Eu
me disfarçava nas necessidades alheias. Minha passagem pela vida estava sendo
vazia de mim. A busca da felicidade, da satisfação e do prazer do outro não
consistia o sentido real da minha existência.
Para viver ou ser melhor, eu precisaria escolher um caminho entre
infinitas encruzilhadas. Esse é o destino de todos os indivíduos que não têm
sorte para nascer, de todos que nascem no vazio. Eu tinha que escolher um
caminho a partir do nada. Eu precisava assenhorar-me de mim mesma. O mal
definitivo poderia estar na minha inércia ou na minha falta de sorte. Eu
precisaria dar minha própria vida por mim. Mendiga de mim eu era, sem saber ao
menos o que me faltava ou o que me bastaria.
Caxias - MA, 05 de junho de 2015.
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