Sou educadora e escritora

sexta-feira, 26 de junho de 2015

O POVO FALA

O POVO FALA
Elany Morais

Como já diz a cantora mineira Ana Carolina: "o povo fala, o povo fala mesmo."  Ela tem razão nisso porque povo fala de tudo e de todos, fala de quem foi, de quem vem e de quem veio, fala de quem se exibiu e de quem se escondeu, fala dos esticados e  até de quem se encolheu. Quem está com o pé na existência pode ser agente que fala ou objeto falado. Até hoje, creio que nenhuma dessas posições almejei ocupar.

 Por ainda eu não ser nada, puseram-me no útero de minha mãe, para que alguma coisa eu fosse.  Mas protestei na primeira investida de me expulsarem do mundo líquido. Duas semanas foi o tempo que minha mãe sofreu com as dores do parto: eu não queria partir. Embora eu não soubesse que esse mundo era de conveniências e inconveniências ou de  regras ilógicas, meu desejo era o de perder o bonde, não queria por os pés nessa terra, " onde tudo que se planta tudo dá". Aqui tudo se germina, nasce e cresce, os falatórios que os digam, pois estes surgem tímidos e crescem numa velocidade e ganham proporções inimagináveis. Daí a grande razão da mineirinha (este diminutivo é para expressar o  apreço que tenho por esse ícone da música nacional brasileira) de voz possante dizer: " o povo fala, o povo fala mesmo."

Aos sete anos de idade, descobri que o pensamento poderia se concretizar através da fala, ou que a fala fosse uma expressão do pensamento, mas eu ainda não sabia que a fala poderia esconder um pensamento. Eu também desconhecia que a mente era uma mina fértil de ideias tortas e equivocadas acerca do outro. O próximo para mim era sempre um saco de bombom doce, mas foi com o passar dos que atinei para a existência do fel na língua. Às vezes, penso que a função destinada às glândulas salivares é apenas lavar o fel da boca.

Dentre tantas descobertas necessárias, nesse contexto, a mais importante foi esta que a ciência do comportamento me proporcionou: as palavras negativas que saem pelos lábios do outro jamais terão poder sobre mim, porque elas são mentirosas, pois são imbuídas de ignorância, de despeito... É o amargor de quem não sabe ser doce se expressando. O defeito está na boca de quem fala, não está em mim. Quanto a mim, permanecerei bem relacionada com minha perfeição e imperfeição, aceitando, respeitando e obedecendo todas as minhas limitações. Somente eu sei do que sou capaz, posso e quero fazer. Nunca cairei na armadilha de satisfazer as necessidades alheias, ou provar algo para alguém. Minha missão, meu compromisso é comigo mesma. O outro é o outro, ele não está em mim, nem eu nele. Ele é com ele, eu é comigo. Somos dois, aparentemente, em um mesmo mundo, que pode ser um mundo de aparências apenas para ele.

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