Elany Morais
Como já diz a cantora mineira Ana Carolina: "o povo fala, o povo
fala mesmo." Ela tem razão nisso
porque povo fala de tudo e de todos, fala de quem foi, de quem vem e de quem
veio, fala de quem se exibiu e de quem se escondeu, fala dos esticados e até de quem se encolheu. Quem está com o pé
na existência pode ser agente que fala ou objeto falado. Até hoje, creio que
nenhuma dessas posições almejei ocupar.
Por ainda eu não ser nada,
puseram-me no útero de minha mãe, para que alguma coisa eu fosse. Mas protestei na primeira investida de me
expulsarem do mundo líquido. Duas semanas foi o tempo que minha mãe sofreu com
as dores do parto: eu não queria partir. Embora eu não soubesse que esse mundo
era de conveniências e inconveniências ou de
regras ilógicas, meu desejo era o de perder o bonde, não queria por os
pés nessa terra, " onde tudo que se planta tudo dá". Aqui tudo se
germina, nasce e cresce, os falatórios que os digam, pois estes surgem tímidos
e crescem numa velocidade e ganham proporções inimagináveis. Daí a grande razão
da mineirinha (este diminutivo é para expressar o apreço que tenho por esse ícone da música
nacional brasileira) de voz possante dizer: " o povo fala, o povo fala
mesmo."
Aos sete anos de idade, descobri que o pensamento poderia se concretizar
através da fala, ou que a fala fosse uma expressão do pensamento, mas eu ainda
não sabia que a fala poderia esconder um pensamento. Eu também desconhecia que
a mente era uma mina fértil de ideias tortas e equivocadas acerca do outro. O
próximo para mim era sempre um saco de bombom doce, mas foi com o passar dos
que atinei para a existência do fel na língua. Às vezes, penso que a função
destinada às glândulas salivares é apenas lavar o fel da boca.
Dentre tantas descobertas necessárias, nesse contexto, a mais importante
foi esta que a ciência do comportamento me proporcionou: as palavras negativas
que saem pelos lábios do outro jamais terão poder sobre mim, porque elas são
mentirosas, pois são imbuídas de ignorância, de despeito... É o amargor de quem
não sabe ser doce se expressando. O defeito está na boca de quem fala, não está
em mim. Quanto a mim, permanecerei bem relacionada com minha perfeição e
imperfeição, aceitando, respeitando e obedecendo todas as minhas limitações.
Somente eu sei do que sou capaz, posso e quero fazer. Nunca cairei na armadilha
de satisfazer as necessidades alheias, ou provar algo para alguém. Minha
missão, meu compromisso é comigo mesma. O outro é o outro, ele não está em mim,
nem eu nele. Ele é com ele, eu é comigo. Somos dois, aparentemente, em um mesmo
mundo, que pode ser um mundo de aparências apenas para ele.
Todos os direitos reservados a Elany Morais
Nenhum comentário:
Postar um comentário