MEMÓRIAS: OS GRITOS DE MINHA MÃE
Elany Morais
Todos nós carregamos no espírito e no coração nossas recordações.
Recordações de fatos, de episódios, que sempre tiverem seus cenários próprios.
É o verde das plantas, das matas, o murmurar do mar, o azul do céu, o brilho da
lua...
Foi numa manhã, o dia estava luminoso, eu passava por veredas estreitas,
cercadas de folhas verdes, mas, vez por outra, os espinhos roubavam a cena.
Alguns pássaros gorjeavam notas melancólicas, como se fosse um presságio de
minha pouca sorte. Ao passar em frente de uma trepadeira, veio-me a vontade de
me por debaixo dela, para que eu viesse a ser amparada, protegida pelos maus
desígnios do destino. Havia sete anos de minha existência, anos que nunca foram
coroados de boa novas, eu fazia deles apenas a esperança de um futuro, quem
sabe, glorioso. Por um instante, cheguei a pensar que eu estivesse a caçoar de
mim mesma.
Foram nessas veredas estreitas que ouvi um forte grito, raivoso,
aterrador... Na boca de quem gritava, estava meu nome. Ele não era doce, na
expressão de quem berrava, sem dó, sem consideração pela minha figura franzina,
fina e frágil. Nesse momento, meus pés se desataram a correr. Espinhos, pedras
e paus pareciam algodão. O que me esperava à frente não era festa. Minha alma
já era espantada com tudo. Se houvesse relógio, certamente, ele bateria a hora
do espanto. Enquanto eu desejava construir uma felicidade durável, os gritos
arquitetavam minha desordem, minha má sorte, meus momentos de agonia e dor.
Quando a realidade se desnudava a minha frente, tudo era destituído de beleza e
felicidade. Meus sentidos viam o sol luminoso transformar-se em nevoeiro
escuro. Apesar da pouca idade, mas eu já percebera que na medida que as horas
se passavam, o nevoeiro aumentava. Parecia que eu estava em pleno mar, sobre
ondas incontroláveis e ameaçadoras... E eu corria... Os pensamentos
chacoalhavam na cabeça. O coração denunciava meu estado de excitação. Nada era
mais terrível do que os gritos de minha mãe. Meus olhos cegavam. De súbito,
vinha-me ideia de virar anjo, de criar asas, de voar para ps céus, onde eu não
pudesse ser vista nem alcançada. Eu acreditava que num instante qualquer, eu
viraria pó, eu viraria mar.
Caxias - MA, 28 de junho de 2015.
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