Sou educadora e escritora

domingo, 28 de junho de 2015

MEMÓRIAS: OS GRITOS DE MINHA MÃE
Elany Morais

Todos nós carregamos no espírito e no coração nossas recordações. Recordações de fatos, de episódios, que sempre tiverem seus cenários próprios. É o verde das plantas, das matas, o murmurar do mar, o azul do céu, o brilho da lua...
Foi numa manhã, o dia estava luminoso, eu passava por veredas estreitas, cercadas de folhas verdes, mas, vez por outra, os espinhos roubavam a cena. Alguns pássaros gorjeavam notas melancólicas, como se fosse um presságio de minha pouca sorte. Ao passar em frente de uma trepadeira, veio-me a vontade de me por debaixo dela, para que eu viesse a ser amparada, protegida pelos maus desígnios do destino. Havia sete anos de minha existência, anos que nunca foram coroados de boa novas, eu fazia deles apenas a esperança de um futuro, quem sabe, glorioso. Por um instante, cheguei a pensar que eu estivesse a caçoar de mim mesma.
Foram nessas veredas estreitas que ouvi um forte grito, raivoso, aterrador... Na boca de quem gritava, estava meu nome. Ele não era doce, na expressão de quem berrava, sem dó, sem consideração pela minha figura franzina, fina e frágil. Nesse momento, meus pés se desataram a correr. Espinhos, pedras e paus pareciam algodão. O que me esperava à frente não era festa. Minha alma já era espantada com tudo. Se houvesse relógio, certamente, ele bateria a hora do espanto. Enquanto eu desejava construir uma felicidade durável, os gritos arquitetavam minha desordem, minha má sorte, meus momentos de agonia e dor. Quando a realidade se desnudava a minha frente, tudo era destituído de beleza e felicidade. Meus sentidos viam o sol luminoso transformar-se em nevoeiro escuro. Apesar da pouca idade, mas eu já percebera que na medida que as horas se passavam, o nevoeiro aumentava. Parecia que eu estava em pleno mar, sobre ondas incontroláveis e ameaçadoras... E eu corria... Os pensamentos chacoalhavam na cabeça. O coração denunciava meu estado de excitação. Nada era mais terrível do que os gritos de minha mãe. Meus olhos cegavam. De súbito, vinha-me ideia de virar anjo, de criar asas, de voar para ps céus, onde eu não pudesse ser vista nem alcançada. Eu acreditava que num instante qualquer, eu viraria pó, eu viraria mar.


Caxias - MA, 28 de junho de 2015.


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