Quando eu ainda não
era, dentro da noite, em tudo não se pensava. Não havia verdades
inconvenientes, propostas indecentes, acordo forçado, abuso pretendido nem
socorro negado.
Agora, eu sou, e não
há equilíbrio que me consinta. O mundo e eu estamos em desacordos. Ele me impõe
regras, mas eu sou as regras. Então, como ser sem ser? Por isso, vivo no
engasgamento, que me laça e me emperra. Talvez esse seja o preço de não ir para
a cova na ignorância. Por enquanto, continuo sendo, mas sem esperança de algum
indício elucidativo. Creio deitar-me na eternidade sem viver completamente.
Quando eu ainda não
era, a liberdade alheia não me era oferecida. Não havia valor desconcertante,
não havia filosofia de velhice nem excessos. Não existia nobreza na tristeza, o
coração não pulsava, o corpo não era submisso, as mães não eram de ventos nem
de mares. A vida não era pequena nem enorme, tudo era nada... Como algo poderia
me jogar no chão? Não havia sentidos intelectuais ou primários, não havia
movimento ou fúria silenciosa e minuciosa, a chuva não era de lágrimas ou de
pedras... Eu não tinha que sobreviver em alguma direção.
Todos os direitos reservados a Elany Morais
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