Sou educadora e escritora

sábado, 7 de maio de 2016

QUANDO EU AINDA NÃO ERA

Quando eu ainda não era, dentro da noite, em tudo não se pensava. Não havia verdades inconvenientes, propostas indecentes, acordo forçado, abuso pretendido nem socorro negado.

Agora, eu sou, e não há equilíbrio que me consinta. O mundo e eu estamos em desacordos. Ele me impõe regras, mas eu sou as regras. Então, como ser sem ser? Por isso, vivo no engasgamento, que me laça e me emperra. Talvez esse seja o preço de não ir para a cova na ignorância. Por enquanto, continuo sendo, mas sem esperança de algum indício elucidativo. Creio deitar-me na eternidade sem viver completamente.

Quando eu ainda não era, a liberdade alheia não me era oferecida. Não havia valor desconcertante, não havia filosofia de velhice nem excessos. Não existia nobreza na tristeza, o coração não pulsava, o corpo não era submisso, as mães não eram de ventos nem de mares. A vida não era pequena nem enorme, tudo era nada... Como algo poderia me jogar no chão? Não havia sentidos intelectuais ou primários, não havia movimento ou fúria silenciosa e minuciosa, a chuva não era de lágrimas ou de pedras... Eu não tinha que sobreviver em alguma direção.

Todos os direitos reservados a Elany Morais
                                                                                                                  





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