FUGA
Elany Morais
Meus pés pedem chão firme. Este já não há. E agora? Outro solo, meus pés
não sabem pisar. Meus sentidos não entendem a língua presente, portanto, não
sou daqui. Que destino! Cai sobre mim esta realidade desarticulada. Não aprendi
aceitar a inalteração das lágrimas, por isso, almejo deixar este palco parco e
sombrio. Estou na encruzilhada do desejo de fuga. Se um dia não falei, foi por
dentro que gritei.
Outrora fui cega de fantasias, de angústia, mas hoje meu querer,
insistentemente, se revolta, havia um laço, um sangue, um giz que, nesse
cenário, me prendiam como sapos em sua loca. Compreendo que o infinito não será me dado, embora eu peça,
embora eu grita, não alcançarei as grandezas, mas prostrarei sempre de mãos postas
e alma aflita.
Meu estômago rejeita, nessa paisagem, o egoísmo. Meus pés temem esta
areia movediça. Por isso, quer asas, quer voo, coragem, certeza, caminhos
certos, vestes claras, sonhos brancos, quer partida desse mundo de falsos
santos. Como suportar meu ser condenado, sob esses céus de enganos, de desamor,
de lutos e desejos insanos? O que todos são? Ilusão, reflexo, sombra ou um
projeto humano? Se verdes virão, não creio. O desgosto de agora aperta o seio.
Só me resta a consciência do que será de mim: que haverá um tempo, um dia, uma
hora, que será exclusivo o tempo do meu fim.
Caxias - MA, 29 de julho de 2015.
Todos os direitos reservados a Elany Morais
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