Sou educadora e escritora

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

SOMOS ALGARISMOS?

SOMOS ALGARISMOS!
Por Elany Morais

Em nós, o que sobra além de números? Até o si de cada um tornou-se um número perdido na imensidão espacial. Se fôssemos gente certamente não seríamos números. Pelo visto, reduzimo-nos a folhas secas em agosto nordestino.

Quando se nasce, vem-se primeiro o número, depois o nome. Em casa, é-se o primeiro ou é o último. Na escola, o número se sobrepõe o nome. Adeus, João, agora tu és o 1. É necessidade ou vício de enumerar? Eu algarismo, tu algarismas, todos algarismamos e, assim vamos nos tornando cifras. Penso que jamais sairemos do universo da contabilidade. Ah, agora mesmo preciso contabilizar o tempo que gasto divagando no que poderia ser, mas não é e nunca será.

Atentamos para isto: até a qualidade de vida, que não há, é representada por números. O que poderia ser viver bem é apenas algarismo. E se é para contabilizar, certamente, a qualidade de vida de muitos é zero. Sou lenta mesmo, ainda não consegui entender como se conta o que não se vê. Conhecimento é calculado, somado, computado... Aprende-se e não se aprende de todo tanto. É zero para quem não repete o que digo e dez para papagaio imitador. Não sei se tem número para dor. Mas tem nível. Se tiver número para dor, que meu doer seja zero! Na verdade, quero ser tudo, menos um número. Na minha identidade, na minha carta de motorista, no meu título, no meu registro de nascimento sou número. Em qualquer lugar que chego, sou reconhecida apenas por algarismos. Na escola, passei anos com identificação  9 ou 5. Vez por outra, eu até esquecia que eu tinha um nome, cheguei a pensar que eu não era nominável ou que meu nome não fosse palatável. E como sempre, meu pensamento era apenas pensamento, a realidade estava longe do meu entender.

Às vezes, sou traída ou vencida pelo o que não me apetece, pois muitas vezes, pego-me a tentar medir sentimentos que há em mim, como o amor. Então lembro-me da célebre frase, da eminente escritora brasileira - Clarice Lispector: "não existe número para o amor" Isso me consola e me conforta. Mas de repente sou assaltada pelo pensamento de que  estamos chegando ao amor zero. Mas meu imenso desejo é - Já que há número para quase tudo ou tudo - que o número do amor seja dez, pois  já basta o zero da nossa posteridade.


Caxias - MA, 09 de setembro de 2015.

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