Sou educadora e escritora

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

DESGOSTOS PARA TODOS OS GOSTOS

DESGOSTOS PARA TODOS OS GOSTOS
Por Eany Morais

Lamentações, lamentações, um monte de inutilidades. Por que lamentar? O desgosto sempre virá, calado, taciturno, em seu horror, com vestes sepulcrais. É no silêncio que ele nasce, arrancando de nós os nossos tristes ais. Será que há como desvendar a causa desse mal que nos faz tão outros e outras? Quantas vezes já fui rasgada pelas unhas do desgosto! E quem não se teve sob suas garras afiadas? Até Ricardo Reis quando disse que não teria mais desgosto foi por puro desgosto. 

   Ah! Por que não querer o que se tem e desejar o que nunca haverá de se ter? Se diferente fosse disso, teríamos alegrias sem ter  desprazer.  Até penso que se gostar fosse desgostar, todos gostariam. Quem sabe não estamos seguindo o conselho de Marce Proust, que considerava  o desgosto condição primordial para o desenvolvimento das forças do espírito! O fato é que existe de tudo para todos, como há desgostos para todos os gostos. Bem me lembro de  Doantien Alphonse François que proclamava que seu maior desgosto era saber da inexistência de Deus, assim, jamais teria o prazer de insultá-lo, e o desgosto daquele que entrou numa fábrica para pedir um emprego e de lá saiu empregado? Há também o desgosto daquele que vive a esperar a extensão da linda da vida, mesmo sabendo que o imite é o nada.  O desgosto de Caio Fernando Abreu também entra no rol dos inusitados, ao proferir: " E tudo que eu andava fazendo e sendo eu não queria que ele visse nem soubesse, mas depois de pensar isso me deu um desgosto porque fui percebendo (...) que talvez eu não quisesse que ele soubesse que eu era eu, e eu era."

Enfim, cada um com sua faca afiada submersa em sua alma


Caxias - MA, 16 de setembro, de 2015.

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