DESGOSTOS PARA
TODOS OS GOSTOS
Por Eany Morais
Lamentações,
lamentações, um monte de inutilidades. Por que lamentar? O desgosto sempre
virá, calado, taciturno, em seu horror, com vestes sepulcrais. É no silêncio
que ele nasce, arrancando de nós os nossos tristes ais. Será que há como
desvendar a causa desse mal que nos faz tão outros e outras? Quantas vezes já
fui rasgada pelas unhas do desgosto! E quem não se teve sob suas garras
afiadas? Até Ricardo Reis quando disse que não teria mais desgosto foi por puro
desgosto.
Ah! Por que não querer o que se tem e
desejar o que nunca haverá de se ter? Se diferente fosse disso, teríamos
alegrias sem ter desprazer. Até penso que se gostar fosse desgostar,
todos gostariam. Quem sabe não estamos seguindo o conselho de Marce Proust, que
considerava o desgosto condição
primordial para o desenvolvimento das forças do espírito! O fato é que existe
de tudo para todos, como há desgostos para todos os gostos. Bem me lembro
de Doantien Alphonse François que
proclamava que seu maior desgosto era saber da inexistência de Deus, assim,
jamais teria o prazer de insultá-lo, e o desgosto daquele que entrou numa
fábrica para pedir um emprego e de lá saiu empregado? Há também o desgosto
daquele que vive a esperar a extensão da linda da vida, mesmo sabendo que o
imite é o nada. O desgosto de Caio
Fernando Abreu também entra no rol dos inusitados, ao proferir: " E tudo
que eu andava fazendo e sendo eu não queria que ele visse nem soubesse, mas
depois de pensar isso me deu um desgosto porque fui percebendo (...) que talvez
eu não quisesse que ele soubesse que eu era eu, e eu era."
Enfim, cada um
com sua faca afiada submersa em sua alma
Caxias - MA, 16
de setembro, de 2015.
Todos os direitos reservados a Elany Morais
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