Sou educadora e escritora

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

INTIMISMO


INTIMISMO 
Elany Morais

 Só que, sendo intimista, ainda me atrapalho com a profusão de coisas do mundo externo. Nesse estado de incompreensão estava eu quando encontrei, na rua, com uma amiga que há anos não a via. O celular dela tocou, era uma daquelas vozes femininas treinadas para vender pacotes promocionais de operadoras de telefonia. Logo desligou com um ar de aborrecida. Em seguida, abraçou-me, falou de suas realizações e, quando me perguntou o que eu havia feito durante todo o tempo em que nos separamos, comecei anunciar-lhe a minha pretensão de escrever. E sem mais nem menos, ela me perguntou: escrever o quê? Sobre o quê? Eu até pensei em responder dizendo que desejava escrever sobre economia, política ou mesmo religião. Mas eu respondi: penso em escrever sobre gente que ama e sofre, gente que não é gente, que já foi gente, porém, o mundo o transformou em outra coisa que não é gente. Ela olhou para mim com uma expressão fisionômica de quem não havia entendido o que eu dissera. E naquele momento,  foi com um pouco de pudor que olhei para dentro de mim por não entender o que estava ao meu arredor.


Depois até me consolei: não era humilhante não entender de todos os assuntos universais. Ninguém pode exigir de mim que eu tenha interesse por tudo o que pode ser importante para os outros. Além do mais, o maior interesse de todo ser humano é  si mesmo e, quem  não se volta para seu mundo interior é, certamente, por não saber fazer isso.

Caxias - MA, 12 de dezembro de 2014.

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