INTIMISMO
Elany Morais
Só que, sendo intimista, ainda me atrapalho com
a profusão de coisas do mundo externo. Nesse estado de incompreensão estava eu
quando encontrei, na rua, com uma amiga que há anos não a via. O celular dela
tocou, era uma daquelas vozes femininas treinadas para vender pacotes
promocionais de operadoras de telefonia. Logo desligou com um ar de aborrecida.
Em seguida, abraçou-me, falou de suas realizações e, quando me perguntou o que
eu havia feito durante todo o tempo em que nos separamos, comecei anunciar-lhe
a minha pretensão de escrever. E sem mais nem menos, ela me perguntou: escrever
o quê? Sobre o quê? Eu até pensei em responder dizendo que desejava escrever
sobre economia, política ou mesmo religião. Mas eu respondi: penso em escrever
sobre gente que ama e sofre, gente que não é gente, que já foi gente, porém, o
mundo o transformou em outra coisa que não é gente. Ela olhou para mim com uma
expressão fisionômica de quem não havia entendido o que eu dissera. E naquele
momento, foi com um pouco de pudor que
olhei para dentro de mim por não entender o que estava ao meu arredor.
Depois até me consolei: não era humilhante não entender de
todos os assuntos universais. Ninguém pode exigir de mim que eu tenha interesse
por tudo o que pode ser importante para os outros. Além do mais, o maior
interesse de todo ser humano é si mesmo
e, quem não se volta para seu mundo
interior é, certamente, por não saber fazer isso.
Caxias - MA, 12 de dezembro de 2014.
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