Sou educadora e escritora

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

LUGAREJO

LUGAREJO
Elany Morais

Lugarejo sem brejo nem estrada, longe de tudo, perto de nada. Esse era o lugar onde muitas vezes vozes choravam no silêncio noturno. Dele, o rio corria, as plantas ressequiam, o gado morria, as árvores não floriam, somente o pássaro cantava, a cigarra rachava,  o agricultor plantava, mas naquele lugar, nada vingava. Lá, quando o dia dormia, só se ouvia o grito oco, que pedia socorro, à beira do único poço que abastecia a todos, dos mais velhos aos mais moços. Quando o dia amanhecia, o prenúncio era de alegria, mas com o passar das horas, toda essa esperança morria. O sol era de rachar, a promessa das crianças; apanhar, ali, de muito não se abaia, principalmente, amar. Ah! Quanto desgosto! Viver com a corda no pescoço, mas a vida ali não era rascunho nem esboço, era uma versão definitiva, que nos despertava com um soco.

Os domingos eram para ser de folga, mas as costas dos indefesos casavam-se com a sola, o sonho de brincar com  boneca ou de bola evadia-se de mundo a fora. Lá não havia aquelas cenas de poemas, onde os campos eram verdes, com flores de açucenas, apenas existiam as rezas e as novenas, mas que parecia não valer apena.

Cada dia ruim, torcia-se para que  este fosse o último, ninguém se prendia ao que fosse fútil, pois lutar pela vida era o de mais útil. Não prezo relembrar o passado,  aquele chão não foi amado, porque lá morria gente, morria planta e morria o gado. Quem, naquele lugarejo, não perdeu a força, sem ninguém que o ouça, para livrar de tão triste sina, onde nada se fascina, somente a dor que alucina, com lágrimas no olhos e tanto, onde todos viviam em pranto até que a voz que termina.


Caxias - MA, 10 de agosto de 015.

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