VIVER É PERDER
Elany Morais
Como me isolar da agonia?
Meu viver e o dos outros é assim:
a vida finge que joga uma carta para ti; outra para mim. Convence-nos de que a
morte mascara outra realidade desconhecida, porém com a possibilidade de paz,
descanso e felicidade. Mas na verdade, a vida faz isso porque quer esconder a
sua sutil face trágica. Quem não percebeu ou viveu perdas gradativas, ao longo
da existência? É isto: viver também é perder. A vida segue, e as perdas vão se
desfilando, desfiando, crescendo, avolumando-se até onde não se tem mais o que
perder, restando apenas aquilo que talvez não se queira mais Essa, sim, é a
verdade extraordinária. Não há do que se surpreender. Isso não é um escândalo.
Estamos num beco sem saída. Estamos na vida. Vamos perder sempre o que mais se
quer. Ser é trágico. Viver é um circulo vicioso de perde -e- ganha. Ou não se
ganha. Ganhar na vida é ilusão. Há apenas um empréstimo, sem aviso prévio de
nos ser tirado aquilo que aparentemente nos foi dado.
Como é difícil jogar sem cartas! Como ganhar sem saber as regras do jogo?
Não temos chance. Já nascemos vencidos. Perder é o castigo de ser e estar. Até
a coragem nos negam para retornarmos. Retroceder não é possível. Avançar também
é caminhar para o final, o final do ser, do estar, do quer... Aqui é o auge do
perder. Em fim, na vida, perde-se tudo, até o querer não perder.
Caxias- MA,02 de agosto de 2015.
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