Sou educadora e escritora

domingo, 12 de abril de 2015

PASSEIO

PASSEIO
Elany Morais

O dia estava lindo. O sol era o principal agente do espetáculo. O branco das nuvens e o azul do céu se misturavam, confundiam-se. O verde das folhas e o colorido das flores cromatizavam, adornavam o mundo fora de minha janela. Ao me deparar com essa encenação da natureza, senti-me tão pequena diante de tanta grandeza . O panorama me convenceu a deixar os afazeres chatos para desfrutar do que estava sendo oferecido a mim. O vento me convidava a bailar junto às folhas, que rodopiavam, subiam e desciam sob o som da viração matinal. Mas o sentimento de culpa, que é o carrasco da felicidade, pedia-me entrada. Por um instante, detive-me em mim, volteei dentro do meu ser, limpando-me de todos os sentimentos escravizadores.

Depois dessa batalha interna, pus os pés fora de casa. Estava decidida a fazer um passeio despretensioso. Saí a caminhar, sem muito a pensar. Sempre gostei de  andejar, de percorrer... Muitas das vezes, abandono meu veículo para poder sentir meus pés no chão. Ao andar, eu cresço, meus olhos festejam, tornam-se lentes de aumento.  Ao passear com meus pés, espalho-me, sinto tudo de perto, reconheço cores, cheiros, vidas... O mundo transfigura-se num prazer de ver e viver.

No meu itinerário, encontro uma colega que há muito tempo, eu não a via. No momento em que a reconheço, tive a sensação de que ela era meu espelho. A tristeza bateu a minha porta, a dizer-me que o tempo tinha se encarregado de nos envelhecermos, de limitar nosso corpo... A beleza física dela já não era mais a mesma, certamente, a minha também não era. Foi uma surpresa. A minha incapacidade de aceitar o nosso destino final, deixou-me constrangida. Cumprimentei-a. Foram minutos de conversas confusas. Ela me olhava, como se não estivesse a acreditar que eu havia me tornado uma adulta. Quis saber de coisas e coisas de minha vida. Sempre fui tímida para falar de mim. Limitei-me a dizer que estava tudo bem, com o andamento dos anos. Despedimo-nos , olhei para trás... Pensei: vou morrer e não entenderei por que a decadência não se cansa de nos esperar.


Caxias - MA, 12 de abril de 2015.

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