Elany Morais
O dia estava lindo. O sol era o principal agente do espetáculo. O branco
das nuvens e o azul do céu se misturavam, confundiam-se. O verde das folhas e o
colorido das flores cromatizavam, adornavam o mundo fora de minha janela. Ao me
deparar com essa encenação da natureza, senti-me tão pequena diante de tanta
grandeza . O panorama me convenceu a deixar os afazeres chatos para desfrutar
do que estava sendo oferecido a mim. O vento me convidava a bailar junto às
folhas, que rodopiavam, subiam e desciam sob o som da viração matinal. Mas o
sentimento de culpa, que é o carrasco da felicidade, pedia-me entrada. Por um
instante, detive-me em mim, volteei dentro do meu ser, limpando-me de todos os
sentimentos escravizadores.
Depois dessa batalha interna, pus os pés fora de casa. Estava decidida a
fazer um passeio despretensioso. Saí a caminhar, sem muito a pensar. Sempre
gostei de andejar, de percorrer...
Muitas das vezes, abandono meu veículo para poder sentir meus pés no chão. Ao
andar, eu cresço, meus olhos festejam, tornam-se lentes de aumento. Ao passear com meus pés, espalho-me, sinto
tudo de perto, reconheço cores, cheiros, vidas... O mundo transfigura-se num
prazer de ver e viver.
No meu itinerário, encontro uma colega que há muito tempo, eu não a via.
No momento em que a reconheço, tive a sensação de que ela era meu espelho. A
tristeza bateu a minha porta, a dizer-me que o tempo tinha se encarregado de
nos envelhecermos, de limitar nosso corpo... A beleza física dela já não era
mais a mesma, certamente, a minha também não era. Foi uma surpresa. A minha
incapacidade de aceitar o nosso destino final, deixou-me constrangida.
Cumprimentei-a. Foram minutos de conversas confusas. Ela me olhava, como se não
estivesse a acreditar que eu havia me tornado uma adulta. Quis saber de coisas
e coisas de minha vida. Sempre fui tímida para falar de mim. Limitei-me a dizer
que estava tudo bem, com o andamento dos anos. Despedimo-nos , olhei para
trás... Pensei: vou morrer e não entenderei por que a decadência não se cansa de
nos esperar.
Caxias - MA, 12 de abril de 2015.
Todos os direitos reservados a Elany Morais
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