SOMOS ALGARISMOS!
Por Elany Morais
Em nós, o que
sobra além de números? Até o si de cada um tornou-se um número perdido na
imensidão espacial. Se fôssemos gente certamente não seríamos números. Pelo
visto, reduzimo-nos a folhas secas em agosto nordestino.
Quando se nasce,
vem-se primeiro o número, depois o nome. Em casa, é-se o primeiro ou é o
último. Na escola, o número se sobrepõe o nome. Adeus, João, agora tu és o 1. É
necessidade ou vício de enumerar? Eu algarismo, tu algarismas, todos
algarismamos e, assim vamos nos tornando cifras. Penso que jamais sairemos do
universo da contabilidade. Ah, agora mesmo preciso contabilizar o tempo que
gasto divagando no que poderia ser, mas não é e nunca será.
Atentamos para
isto: até a qualidade de vida, que não há, é representada por números. O que
poderia ser viver bem é apenas algarismo. E se é para contabilizar, certamente,
a qualidade de vida de muitos é zero. Sou lenta mesmo, ainda não consegui
entender como se conta o que não se vê. Conhecimento é calculado, somado,
computado... Aprende-se e não se aprende de todo tanto. É zero para quem não
repete o que digo e dez para papagaio imitador. Não sei se tem número para dor.
Mas tem nível. Se tiver número para dor, que meu doer seja zero! Na verdade,
quero ser tudo, menos um número. Na minha identidade, na minha carta de
motorista, no meu título, no meu registro de nascimento sou número. Em qualquer
lugar que chego, sou reconhecida apenas por algarismos. Na escola, passei anos
com identificação 9 ou 5. Vez por outra,
eu até esquecia que eu tinha um nome, cheguei a pensar que eu não era nominável
ou que meu nome não fosse palatável. E como sempre, meu pensamento era apenas
pensamento, a realidade estava longe do meu entender.
Às vezes, sou
traída ou vencida pelo o que não me apetece, pois muitas vezes, pego-me a
tentar medir sentimentos que há em mim, como o amor. Então lembro-me da célebre
frase, da eminente escritora brasileira - Clarice Lispector: "não existe
número para o amor" Isso me consola e me conforta. Mas de repente sou
assaltada pelo pensamento de que estamos
chegando ao amor zero. Mas meu imenso desejo é - Já que há número para quase
tudo ou tudo - que o número do amor seja dez, pois já basta o zero da nossa posteridade.
Caxias - MA, 09
de setembro de 2015.