Sou educadora e escritora

segunda-feira, 5 de maio de 2014

A INGRATIDÃO: AS PERNAS DO EGOÍSMO

A INGRATIDÃO: AS PERNAS DO EGOÍSMO
Elany Morais

 ( EXPLORARAM JEGUE, AGORA QUEREM COMÊ-LO, POR NÃO SERVIR MAIS COMO INSTRUMENTO DE TRABALHO)

Por que me jogaram no mundo dos soberbos, dos ordinários, dos ingratos? De repente, acordo no mar do egoísmo humano. Torne-me escravo sem saber o motivo pelo qual eu deveria me submeter às insanas vontades e necessidades desse ser de mente torpe.

Fui transporte de corpos insaciados e, embora eu não fosse movido a motor, embora eu não fosse uma indiferente e fria máquina, minhas forças, minha coragem, minha disposição não podiam cessar nem fraquejarem. Era minha condição de existência, nesse lamaçal de ingratidão.

Quando nasci, o calvário abria as portas para mim: o trabalho era meu café das primeiras horas do dia. O mundo com todo seus bagulhos montava em cima de mim. Quando o peso parecia que iria me achar ao meio, o chicote rasgava minha pele, que não era fina, ele gritava ao meu ouvido, dizia insistentemente, que eu não podia parar. Quando minhas pernas, já resignadas se deixavam abater-se, uma chuva de atrocidades caía sobre mim. Nesse momento, só me restava uma alternativa: continuar a viver sob o domínio do meu infeliz algoz.

Eu não perseguia as horas, o tempo, mas aprendi, com a repetição do infortúnio, que no momento em que o sol sentia sono, era meu tempo de deixar meus membros caírem sobre a terra fria, de mastigar aquela palha que os humanos não queriam nem mesmo para cama. Ali, na escuridão, às vezes, sob chuva, era meu momento de felicidade. O frio era meu cobertor. Quando meus olhos mal se voltavam para o nada, o sol, a voz impiedosa se encarregavam de me dizerem que tudo já recomeçaria

Não sei o que aconteceu no universo desses ser que não merece o que recebe, mas percebi que haviam me esquecido nos matagais, nas estradas. Pensei que os humanos tinham caído em si, que tinham resolvido me dá carta de euforia, que eles estivessem cansados de serem ingratos, violentadores, que nada! Eles descobriram algo que fosse melhor do que eu para alimentar a mão esquerda do seu egoísmo. Eu estava em paz porque meu valor de supressão de suas necessidades não mais existia. Mas dos feitos humanos, isso tudo não o pior. O decreto maligno ainda estava por vir. Não se surpreendam, companheiros de sofrimento, agora eles querem alimentar sua pérfida fome com nossa carne. Eles estão criando uma espécie de fome para nos jogar em seus estômagos. Agora só me resta uma dúvida: será que eles querem ingerir nossa carne, nosso sangue para adquirir nossa força, nossa resistência? Será que eles querem se transformar em jumento como nós?

Um comentário:

  1. Boa noite Eminente poetisa Elany Morais, somos vítimas do nosso egoísmo, e o desrespeito do outro para conosco por foças do mercantilismo doentio, mas concordo com você que nos parece haverem forças malignas atuando como um rolo compressor para nos oprimir, e nos deprimir, parabéns pelo contundente poema, um forte abraço deste seu fã de sempre, MJ.

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