Sou educadora e escritora

terça-feira, 18 de março de 2014

HOJE

 
Elany Morais

Estou a escutar meu silêncio. Ele está quieto, fino, doce, maduro... Está um dia de sol. Mas este dia não é grande. Ele é comprimido. Hoje, peço licença para não pensar. Não quero pensar para não espantar meu silêncio. Este assiste de perto a minha tomada de posse. Estou a me apoderar de mim mesma. Psiu! Não me interrompa. Estou ocupada, não com pensamentos, mas comigo. Se penso, não vejo meu escapar. Estou de vigília. Estou a fechar a porta para o que me invade. 

Escuta, quero só olhar o sol antes que anoiteça. Mas olha-lo apenas pela janela. Lá fora, há espinhos. Hoje meus pés estão sarados, sair do meu campo é sacrilégio. Preciso ser hospitaleira com minha coragem, pois ela não é residente, na minha displicência, ela arruma as malas e parte. Visitante precisa de honrarias. Posso cuidar do que é meu? Então, cuide de suas vozes, deixe-me no meu silêncio.

Hoje não quero me aborrecer. É dia de sol. Estou a cortar as grandes arestas. Hoje deixo passar o barulho de minhas vozes, as alheias também. Pense. Não, não, não pense. Se pensar tumultuará a vida própria e a alheia. Então, escute. É dia de paz. Paz longa, ela é forasteira, mas estou a cativa-la. Se não sabe fazer o mesmo, escute o silêncio que vem de dentro.

Só por hoje, não quero ser para mim insuportável. Estou a crescer. Posso ouvir bem baixinho, por isso, abafe seus ruídos, estou à espreita de mim. Com laços a postos. O dia findará. Quando a noite chegar, quero estar madura, serena e pura. Pare! Penso que ouço, não, não penso, meus pensos não são. Estou a ouvir o vento, não é vento, é tempestade, mas não ouvirei porque estou ocupada com meu silêncio que me faz feliz.

Caxias- MA, 11 de março de 2014.


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