Sou educadora e escritora

segunda-feira, 3 de março de 2014

REVELAÇÃO

REVELAÇÃO
Elany Morais

Aquele dia parecia interminável. Estava acolhido por nuvens negras. Ele me olhava com olhos sombrios. A música que estava ouvindo traduzia a melancolia de um dia quase chuvoso. O texto que escrevia não apresentava sentidos coerentes. Abandonei-o, reclinei-me na poltrona, com o olhar em direção à janela que dava para rua. Ali fiquei um bom tempo a observar algumas pessoas sentadas em um bar. Elas bebiam alguma bebida. Falavam alto, gesticulavam, as palavras saiam desconexas, as faces estavam transfiguradas. Estavam alheios à condição existencial humana. O mundo era um eterno falar sem pensar. Os verbos, sem conjugação, pulavam carregados por salivas grossas, a revelar as imundices guardadas à sete chaves na mente humana.

Naquela mesa de bar, ninguém ouvia alguma voz externa a si próprio. Todos, ao mesmo tempo, exaltavam-se. Esboçavam poder que talvez não possuíam. Sem motivos, feriam-se com palavras cortantes. Os ânimos acirravam-se, vozes ganhavam volume em alta potência. Todos tinham razão que a vida não lhes deram. Eu, absorta, era possuída por uma náusea, náusea da minha condição que estava sendo revelada por aquelas pessoas que estavam alheias às nossas mediocridades e fragilidades.

Caxias - MA, 03 de março de 2014.


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