PENSAMENTOS VICIOSOS
Elany Morais
Tenho uma incompetência absurda para os mistérios e incertezas da vida.
Minha crença é única, fechada, talvez trágica, ou mesmo desesperançosa.
Assalta-me a ideia de que partirei a qualquer momento, sem sequer arrumar as
malas. Isso deve ser minha capacidade de viver no vácuo. Nesses instantes,
tento engolir o medo. Lanço mão de tintas e pincel, na tentativa de colorir a
vida com outras matizes.
Dou vazão ao projeto de por os pés em solo firme, mas logo a razão me
grita em alto som de que a realidade não condiz com o que penso ou
imagino. Confesso que - se eu pudesse-
decretaria vida eterna para mim, mesmo que fosse para apenas para sentir o entardecer e suas
nuances ou para me deleitar com as sonoridades amenas dos pássaros, elas me
consolam.
Às vezes, sinto a vida como uma casa fechada, sem janelas nem saídas.
Tento, nela, equilibrar-me. Mas tudo é em vão. Quando penso que estou a me
construir em silêncio, o meu pensar vicioso e rebelde joga-me na desorganização. Outras vezes, convenço-me
a me reordenar. Persuado-me de que estou apenas a atravessar um ciclo...
Muitas vezes, as circunstâncias me
propiciam coragem para desafiar a realidade imutável, rebelo-me contra o
impossível, mas a vida dessa coragem é breve, porque minha esperança é mortal e
a fé totalmente abalável. Por mais que meu coração reclame repouso, não dou
trégua para ele. É o pensamento vicioso. Ora, resigno-me com o impossível, com
o imutável, por não ter nenhuma resposta para minhas indagações, restando, apenas
como remédio, a cação do momento.
E assim, fico a me consumir nos dias, nas horas... A perceber que, além
de tudo isso, o tempo não é nem um pouco generoso. Então, prostro-me a la Raul
Seixas: " sentada no apartamento, esperando a morte chegar."
Caxias - MA, 26 de julho de 2015.
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