PRAZER E DOR
Elany Morais
Todo nós somos reféns. A natureza selou nosso destino aos pés do prazer e
da dor. Sem esta e, muito menos sem aquela, podemos ser.
Quando que viver será deixar de se sujeitar ao prazer e à dor? Nossos
passos não vacilam para outra direção, pois outra não há. Em vão é cruzar
linhas predestinadas a um único ponto, a um único fim.. Podemos estar submerso
no mundo das aparências, dos enganos, mas não escapamos do que ilusionar nossos
sentidos não podem: o prazer e a dor. Estes sãos nosso paraíso e inferno. Sem
contestação, eles são nosso barco que nos conduz a tudo... São nossa marca de existência, nosso
ferro, nosso carimbo... A natureza nos deu sensibilidade para senti-los,
independente de nosso pensar ou do querer. E, se assim a vida é, não me seduz
as ideias religiosas de que prazer é
mácula, porta aberta para o inferno dos que em tudo e em qualquer coisa creem.
Meus ouvidos estão sensíveis, irritáveis aos discursos de que o prazer é imoral, obsceno, ilegal. Se assim
for, o nosso ser é, na sua essência,
imoral total. Prazer e dor são inerentes ao nosso existir. Por isso, não
me cabem os dogmas que me dizem que sou o que não sou, ou que não sou o que é.
O que vem de mim é dito e sentido apenas por mim. Quem ainda não se descobriu
no mundo, na vida, anda conjecturando o que está longe de ser o que é.
Por que condenar o prazer se ele nos dá resistência à dor? É destino nosso : querer prazer e se esquivar
da dor. Todos estão habitando o mesmo terreno, onde são atraídos pelo prazer e
temem a dor. Quando os joelhos gritam pressionados pelo chão firme e os dedos
debulham o rosário, não é por medo da
dor? O céu que tantos querem habitar, não é por receio da dor? Quando o prazer
é rejeitado, não é por pavor da dor?
E agora? Saída não há! Por que mendigar mar, se não existe água? Beco sem
entrada e sem saída é querer viver sem dor. Estupidez sem medida é renegar,
desprender-se do regalo, do deleite, do júbilo, do prazer. Não posso deixar de
ser o que sou. A Natureza me concebeu de sua forma, lançando sobre mim pesos e
prêmios. Isso virá sobre mim, independendo do qualquer coisa. Não adianta fugir
do pesar, do infortúnio, não adianta o
presente evadir-se do futuro. Hoje eu posso sentir prazer, mas a posteridade é
morte, portando, vou sendo com prazer e dor.
Caxias - MA, 04 de maio de 2015.