Sou educadora e escritora

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

MEU DESAMOR



 É Natal.
E eu como criança desejosa daquilo que não era meu,
sobre a rua desamparada,
via a felicidade alheia se esfregando em minha cara....

Mas aquela felicidade era um tanto intrigante para mim.
Ela era enlouquecida.
Pirueteavam à minha frente, rostos convulsos,
risos desordenados sobre duas ou quatros rodas.

Eu me convencia de que o mundo era um palco de gladiadores.
A felicidade alheia poderia dizimar minha existência para sempre.
Eu não podia dar aos meus passos preguiçosos
um pequeno espaço sem ameaças da desordem
dos que estavam de bem com a vida.

Por alguns instantes,
eu tinha a falsa impressão de que eu era o único
ser vivente existente no mundo.
Por que era Natal?

Em frações de segundos, o cenário se transfigurava.
O cheiro era de embriaguez.
Eu me sentia sem forças.
Eu não era percebida pelos poucos transeuntes
que se deleitavam em suas alegrias tempestivas.

Meus sentidos estavam ligados a tudo.
Meu espírito não comemorava vida
pois meus olhos se detinham numa existência que findara.
Sim, uma vida foi ceifada num ambiente festivo.

Olhei atentamente para aquele pequeno pássaro,
que não era pequeno para minha sensibilidade,
ele estava imóvel, ferido, sem vida, estava espalhado,
servindo de tapete por quem não enxergava o pulsar do coração do outro.

Diante dessa trágica realidade, vi que eu também era um tapete para aqueles
que passaram pelo meu coração, que saíram sem avisar, sem demora.
Eu também poderia ficar inerte, gélida, estátua por algumas horas
para os que sabiam que eu ainda existia impotente perante a realidade imutável.
Mais uma vez, vi a lei da vida jogada na minha cara:
o menor sendo devorado pelo maior.

Agora, era um passarinho garboso, cheio de vitalidade,
que devorava um pequeno inseto.
O implorar pela vida nada valia.
A comemoração pela captura da presa era clara, exibicionista
inseto se debatia, mas seu algoz ignorava sua luta desesperada pelo existir.

Rapidamente,
mais uma vida partia.
Eu não tinha dúvida de que em tempo arrastado,
eu também partia para a eterna inexistência.

Elany Morais
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