Sou educadora e escritora

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

DESENCONTRO



 Você chegou, abraçou-me. Parecia que em seus olhos havia amor. Apossou-se de mim. Roubou meu querer. Acorrentou meus passos. Abafou meus desejos. Engoliu-me com falsas promessas. Distraída, foi me perdendo. Perdi meu Eu, minhas... alegrias, minha força, minha coragem... Como papel em branco caminhava meu destino. Nosso falso amor tomou rumo que nem eu sei.

No primeiro sonho, eu era ventania de desejo, você uma geleira imóvel. Eu corria, você desfilava a passos lentos. Eu cantava; você implorava pelo silêncio mórbido. Nossos ritmos eram desencontros. Eu dançava, seus olhos me paralisavam. Eu regava as flores; você despetalava-as. Eu ria; você se assustava. Nossa dança era no descompasso.

Você me fez barquinho de papel em alto mar. Eu queria seus braços; você me soltou. Compus minhas canções, você as desprezou. Eu me sentia a noite de verão mais sedutora; e você dormia em meu luar. Eu narrava o mais lindo conto de fada; você vacilava. Eu juntava os fios; você os separava... Assim a minha luz se enfraquecia. Eu levantava. Continuava a procurar o seu caminho, os seus laços e abraços. Tudo em vão. Você escorregava. Desamparava-me. Não me encontrava. Eu continuava forasteira em sua morada. Enquanto eu queria que fosse minha coleira, você me enforcava e me jogava na poeira.

Eu sucumbia a cada anoitecer e amanhecer. Minha vida era um deserto. Você levava embora minha paz, minha dignidade. Não me sobrava nada, nem as lembranças dos enganos de amor. Eu estava nua de desejos, de carinhos... Minha alma secava a olhos vistos. Meus lábios tornaram-se preguiçosos. Minhas mãos esqueceram os suaves toques, meu corpo esqueceu as carícias e eu já não era mais nenhuma flor vermelha.

Elany Morais
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Um comentário:

  1. Boa noite Elany seus versos narram uma personagem narrando uma vivencia afetiva composta de vários contextos, começando pela conquista onde o seu encantador era todo cordialidade e deslumbramento, depois veio o período intermediário onde ele já se sentia de posse da sua prenda e a tratava com descaso propiciando-lhe os mais indesejáveis desencontros, e por fim um período de desova, onde a relação não mais lhe interessava, e as suas atitudes eram todas desabonadoras, para com isto provocar a ruptura, do que antes era anunciado como um grande amor. Coisas de gente, parabéns pelo seu contundente poema, um grande abraço, deste seu fã de Taubaté, MJ.

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