Sou educadora e escritora

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

A RUAZINHA



A ruazinha era amparada apenas por sombriões  vermelhos. Era atapetada por pétalas esparsas. O sombreamento dava-lhe o tom melancólico. O silêncio fazia dela uma eterna solitária. E eu  observava sua extensão que se apresentava aos meus olhos como um mar sem fim.

Ao olhar para todas as direções, percebia que nada mais além de mim existia ali. Eu era rainha sem súditos. Eu era livre como barco sem remador, como um burro sem sela, como um cão sem dono...

O vazio me convencia de que todos os viventes haviam partido dali. Não sabia eu o que o motivo do meu vagar por aquela rua que parecia visões oníricas. Apressei o passo. Eu queria fugir  o mais rápido possível. Mas os vestígios de flores no chão me prendiam. Meus olhos eram seduzidos pelo espetáculo do cores que se arrastavam pelo chão.

Seguia eu a passos largos, levando sob os pés aquilo que me encantava. Minha ânsia de ouvir vozes era feroz. Eu precisava confirmar que eu não era  o único coração que pulsava naquela paragem.

Ofegante, olho para trás como quem fugia de um demônio assustador. Não vejo nada além das folhas que bailavam nos seus galhos. Eu entendia que elas me acenavam a se despedir de mim com olhar piedoso. Por um instante, quase paro, mas minha covardia  me obrigava a fugir não daquela rua, mas de mim mesma. Eu fugia, eu tinha medo da minha própria companhia.

Elany Morais

Todos os direitos reservados a Elany Morais

Um comentário:

  1. Boa Tarde Elany Morais, gosto desta sua forma de se adensar à cena construída em seus versos para dar originalidade ao que pretendes transmitir ao seu leitor, e neste evento bucólico, a sua personagem sente-se acuada pelo seu intimo, em meio a solidão que lhe circunda, e apavorada ela precisa ser combatente de si mesma e bravamente faz o diagnóstico do seu medo e descobre que o leão que tenta lhe abocanhar é banguela, porque se trata do seu outro ser incrustado em suas fraquezas indomáveis incertezas. Parabéns pelo seu eloquente poema, um grande abraço deste seu fã Miguel Jacó.

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