Sou educadora e escritora

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

INFÂNCIA PARTE IV



 Foi numa daquelas manhãs temerosas. Foram muitas assim. Quando eu me movi naquela redinha triste (na verdade, tudo naquele quarto era triste. O cheiro era triste. A luz que invadia a fresta da porta chegava até mim com ol...hares tristes. Ela amaciava minha pele, a pedir que eu esperasse a tempestade passar, assim, eu ficava imóvel olhando para o brilho daquela pequena luz), eu abri os olhos, vi que mais uma manhã chegava, com sua beleza, mas trazendo pesadelos para minha alma, que já estava abatida.

Inerte, permaneci sentada sobre a rede, eu era uma idosa cansada de viver dissabores. Fiquei perdida a olhar meus pequenos pés marcados pela dureza da vida que me deram. Mas meu passeio por mim não durou por muito tempo, pois logo ouvi aquela voz autoritária, fria, ameaçadora que me gritava, gritava sem considerar que meu mar estava seco, a pedir socorro. Quando ouvi aquela voz, meu coração me disse que estava apavorado, que eu deveria fazer algo para nos protegermos. Levantei cambaleante de tristeza e medo. Nem quis saber o que aquela voz queria. Fui correndo, com lágrimas. Desorientada, peguei uma vassoura(ela era triste. Olhei para ela, parecia que me pedia socorro, agarrei-me a ela, ainda pensei em beijá-la, mas tempo não havia), com a vassoura nas mãos, pus-me a varrer aquela casa, mas na casa na havia sujeira. Sujeira havia no espírito de quem me conduzia naquele mundo feio. O desespero veio ao meu encontro. Fui coberta por um nevoeiro. Eu não tinha mais nada a fazer.

Pus-me a andar como um barco perdido no mar. Eu caminhava para todas as direções sem saber que rumo tomar. Exausta, prostrei-me sobre um tronco de madeira. Sem forças, fiquei a observar os frutos daquele tamarineiro. A olhar, desejei ser aqueles frutos. Eles, sim, tinham a liberdade de serem eles. Eles podia ficar em seu lugar quieto. Podiam dormir e acordar, sem medo, sem dor... Ali, perdida em meus pensamentos, fui assaltada por uma forte dor em minha cabeça. Aquela dor era um mistério. Por que eu deveria ser golpeada na cabeça? Eu tinha certeza de que eu estava sendo punida por pensar. Pensei que minha algoz adivinhava meus pensamentos. Eu não podia pensar, meus pensamentos eram ouvidos. Naquele momento, senti-me uma árvore velha, sem futuro, preste a ser ceifada. Nenhum dos meus caminhos iam, nenhum me levava a algum lugar. Eu era uma peregrina sem viagem, sem saber por que eu estava sendo comprimida.

Elany Morais

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Um comentário:

  1. Bom dia Elany Morais, toda criança cuidada por alguém que não seja sua mãe, em dados momentos vai sentir-se desprestigiada pela natureza, e castigada pela cuidadora, ainda que esta não a trate de forma abusiva, e estes sentimentos na rasão de ser de uma criança ganham amplitudes catastróficas, e pode produzir nesta resultados devastadores na formação do seu sujeito, muitas vezes redundando-lhe em sequelas irreparáveis, parabéns pelo seu eloquente texto, um grande abraço, MJ.

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