LUGAREJO
Elany Morais
Lugarejo sem brejo nem estrada, longe de tudo, perto
de nada. Esse era o lugar onde muitas vezes vozes choravam no silêncio noturno.
Dele, o rio corria, as plantas ressequiam, o gado morria, as árvores não
floriam, somente o pássaro cantava, a cigarra rachava, o agricultor plantava, mas naquele lugar,
nada vingava. Lá, quando o dia dormia, só se ouvia o grito oco, que pedia
socorro, à beira do único poço que abastecia a todos, dos mais velhos aos mais
moços. Quando o dia amanhecia, o prenúncio era de alegria, mas com o passar das
horas, toda essa esperança morria. O sol era de rachar, a promessa das crianças;
apanhar, ali, de muito não se abaia, principalmente, amar. Ah! Quanto desgosto!
Viver com a corda no pescoço, mas a vida ali não era rascunho nem esboço, era
uma versão definitiva, que nos despertava com um soco.
Os domingos eram para ser de folga, mas as costas
dos indefesos casavam-se com a sola, o sonho de brincar com boneca ou de bola evadia-se de mundo a fora.
Lá não havia aquelas cenas de poemas, onde os campos eram verdes, com flores de
açucenas, apenas existiam as rezas e as novenas, mas que parecia não valer
apena.
Cada dia ruim, torcia-se para que este fosse o último, ninguém se prendia ao
que fosse fútil, pois lutar pela vida era o de mais útil. Não prezo relembrar o
passado, aquele chão não foi amado,
porque lá morria gente, morria planta e morria o gado. Quem, naquele lugarejo,
não perdeu a força, sem ninguém que o ouça, para livrar de tão triste sina,
onde nada se fascina, somente a dor que alucina, com lágrimas no olhos e tanto,
onde todos viviam em pranto até que a voz que termina.
Caxias - MA, 10 de agosto de 015.
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