Sou educadora e escritora

sábado, 4 de janeiro de 2014

MUITAS DE MIM


 Não sei se sou vista na minha multiplicidade. Mas sou assim: várias de mim. Enumerar-me talvez seja uma impossibilidade. Na minha diversidade, falo de amor, de tristeza, de felicidade e de dor. Beirando eu vou na estaticidade e desdobrando-me no movimento alucinante. Quando dou por mim, transformo-me na colhedora de flores de todos os jardins, a lançar pernas e braços para um drama sem fim.
E eu "me transmuto em outras": como água corrente não estaciono. De moça mimada, carente, passo pela senhora austera decadente. Fundo-me com a jovem melodramática, nervosa, assenhorando-me da inconsequente e pegajosa. Há momentos em que me visto de medo, fecho-me em caracóis, cheia de reservas e, cortando os nós, revelo todos os segredos.

Eu sou assim: Múltiplas de mim. Alma acorrentada pela timidez, palavras na minha língua travam, mas quando menos percebo, elas saem com tamanha fluidez. Ora de juízo insano, com vestes de freira e espírito profano. Ora presa pela censura, do nada, solto verbos sem menor frescura. Ora a me calar, mas jogo no ar o que ninguém tem coragem de falar. Ora prendo-me a bichos como jacaré, por vezes, sou homem e em outras; sou mulher. Ora sou sinônimo de sutileza, dona do mundo, inflamo os algozes e saio em minha defesa. Ora pareço fingida, mas com determinação, sou mesmo é atrevida. Ora estou no lamaçal, porém me visto de vermelho como mulher fatal. Ora evito riso de fora, conflito existencial me flecha toda hora. E por fim, eu sou assim: eu sou muitas de mim.

Elany Morais

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