Sou educadora e escritora

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

TÉDIO



 O sempre de todo dia torna todas as coisas amargas, alonga a vida na cruz dolorosa. A fragrância das horas sofrem mutações, restando apenas a vala comum. As novidades deixam de ser novas, convertendo-se em cemitérios estranhos. As rosas perdem sua cor. Os mortos são esquecidos. A curiosidade agoniza. A água já não é quente nem fria. O enfastio chega até do que nunca se viu.

Quando novo, quer-se escalar o céu. Mas com a repetição, tudo torna-se igual, a ambição perde a força e as maravilhas perdem a cor: é o tédio assomando no seu silêncio devastador.

A voz do tédio nasce e ecoa. O aborrecimento pesa. O desejo dorme. O sangue gela. A alma se esvazia. O olhar perde o brilho. Rugas se formam. A felicidade esquiva-se. A idade dilata-se. O coração bate compassado, não vibra, a mente não pensa. Promessas não se cumprem. Laços são nós rebeldes.

Esse mal (o tédio) tem grande poder sobre almas sem criatividades. Dilacera a pele. Abre feridas que não se costuram. Desasas sonhos, poda esperanças, corta o que poderia fartar. Ele é indomável. Nada pode contê-lo. Ele é o mar nas suas maiores profundezas. Quem nunca mergulhou nesse mar?

Elany Morais


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