Sou educadora e escritora

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

ERA UM DIA DE DOMINGO - PRIMEIRA PARTE

 

Todos os domingos já tinham acontecimentos esperados, previsíveis. Tudo era recheado de mediocridade e hipocrisia. Todos os atos eram seguidos à risca como manda a santa "igreja". Todas as ações deveriam acontecer como deveriam ser, se o coração não fosse capaz de colecionar dores. Os verdadeiros desejos deveriam ser jogados para baixo do tapete como se fossem sujeiras nas mãos dos preguiçosos.
 
Mas aquele domingo não seria como um qualquer. Pela imposição do mistério da existência, meu olhos se abriram com a certeza de que o sol estava de luto. Luto pelo riso que não veria, pela exaltação que não receberia. O coração suspirou por causa de sua triste sina:  renovar sempre suas dores. Parada, com os pés pálidos, sobre o frio chão da manhã, só pude dizer uma palavra: hoje a ventania gritará forte.
Em nenhum momento, tentei iludir minha desgraça que estava por vir. Mas eu estava desarmada, desamparada, só com o peito à frente, com todos os seus remendos mal costurados, com suas cicatrizes deformadoras. Um pensamento me veio: a dor, com sua terrível face, não mais me assombra. Contudo, por um instante, vi-me caindo como um grande astro.

Elany Morais
 
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