Sou educadora e escritora

sábado, 5 de outubro de 2013

MUTÁVEL


Mutável eu sou. Meus velhos sapatos já não me satisfazem mais. Meus desejos não crescem mais dentro de mim.  Minhas blusas desbotadas não me autorizam a displicência plangente. Minha identidade não se encontra nas coisas tangíveis. Minhas mãos correm em busca do avesso. Meu tempo morreu. Preciso reinventar meu próximo barco para que eu prossiga o meu navegar.

O fogo que consome meus encantos, faz-me seguir em outros caminhos, talvez, mais estreitos, com desfiladeiros espinhosos. Mas as adversidades alongaram minhas pernas, endureceram meus pés, erigiram meus braços, ofuscaram meus olhos... Se tenho visão de túmulo vazio, são marcas das dores vencidas no desenrolar da vida.

A sombra da minha dor não engrandecerá no meu ser, ilusões não serão meus sonhos irrealizáveis, meu mole cansaço não estará mais em minha tediosa companhia. Rolarei pelo espaço, não abrirei meus braços para quem quer fazer arruaças em meu pequeno espaço. Se não me conheço, não me aventurarei em mais nenhum começo, pois será sempre do mesmo jeito do que já tem sido feito.

Não sou pouco espantosa, mas mudo de casca sempre quando o infortúnio me acha, e se isso me rechaça, lanço fora minha casaca e sem destino certo me jogo em outras paragens, sem garantia de retorno para as mesmas paisagens.

Mutável, penso que ainda sou, não permaneço com o mesmo vento que me enche de tormento, e me sustem no vício do lamento. Depois de tantas tempestades e naufrágios não me dou a ousadia de ficar estática, esperando um destino duvidoso. Faço uso do papel colorido que a vida ainda não me confiscou, amasso- o para recomeçar, com esperança de novas andanças sem os velhos dissabores que me inundam de desgostos pavorosos desse fim tedioso, que é deixar a terra sem saber o certo se o fim está longe ou perto.

Elany Morais

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